A verdade da aceitação
Tememos o que não conhecemos e aquilo que não conseguimos controlar. Só que, nesta equação, como diz o psiquiatra Gerald Lampolsky, o que importa é escolher entre o medo e o amor.
Como seria o mundo se a maioria das crianças soubesse que tem valor apenas pela sua existência, e não pela sua aparência, pela sua condição, pelos seus resultados, pelas suas conquistas? Acredito que teríamos um mundo bem diferente, um mundo onde todos poderíamos pertencer, amar e ser amados, em segurança. É possível quando os adultos estão nutridos com uma autoestima saudável e conhecem a estrutura profunda da aceitação. Ou seja, adultos para quem está bem o outro ser quem é. Sem querer mudá-lo à força.
Às vezes, confunde-se a aceitação com a aprovação. São conceitos distintos. Quem aceita está em paz com o fluir da vida, sabe que as coisas são o que são. Não significa que não vai agir, pelo contrário. Quem aceita abre caminho para ver mais possibilidades, com clareza. Não significa gostar, concordar ou renunciar. Quem aceita, escolhe ver, ter e viver a realidade interna e externa sem querer escapar, livrar-se, afastar ou julgar. Aceita, com curiosidade, que os seus pensamentos, sentimentos, emoções e crenças são o que são, e que são isso mesmo.
Quando lutamos contra uma realidade que não podemos modificar, em vez de aceitarmos, aumentamos o nosso sofrimento. E o paradoxo curioso, que nos revelou o psicólogo humanista, Carl Rogers, é que, quando aceitamos as coisas e as pessoas como elas são, e quando nos aceitamos como somos, então, podemos mudar. À medida que nos tornamos capazes de assumir a nossa própria experiência, caminhamos em direcção à aceitação da experiência dos demais. E assim, quanto mais abertos estamos às realidades em nós e nos outros, menos procuramos, a todo o custo, consertar ou mudar coisas. Tudo se transforma quando aceitamos, profundamente, quem somos.
Portanto, quando aceitamos os nossos filhos, exatamente como são, por inteiro, incluindo tudo o que fazem e que nós, adultos, não gostamos, estamos a nutrir a aceitação. E essa, é absolutamente essencial na construção de uma autoestima saudável. Porque a diferença que faz a diferença não está nos acontecimentos, está na forma como nos relacionamos com os mesmos. E há momentos em que é necessário aceitar que não se consegue aceitar. Este gesto de ousadia e coragem, por si só, pode significar o começo de uma experiência completamente diferente.
O segredo está nesta lista
Na aceitação começa a inclusão, que é das coisas mais sérias da vida. Porque a ausência de inclusão, retira a dignidade humana. A verdadeira riqueza chega-nos quando incluímos! Sem inclusão não chegamos ao outro (nem a nós, já agora). Ela multipla os dons e as alegrias!
Num mundo que idolatra a perfeição e a competição, ficam para trás todos os que não são incluídos. Perde-se o sentido do todo. Perde-se a força motriz do que é necessário e urgente para que o mundo avance conscientemente! Perde-se a família, a comunidade! Perde toda a humanidade! Por isso, o melhor legado que podemos deixar aos nossos filhos, é garantir que vivem esta lista:
São únicos;
Trazem algo para contribuir para o todo;
Merecem existir, tal e qual como são;
Expressar e manifestar o que sentem, pensam, desejam, as suas
necessidades…;
São perfeitos nas suas imperfeições;
Não precisam de conserto;
Merecem amor e presença incondicionais;
E sim, a inclusão pode ser exigente, mas é possível e traz consigo a mais generosa das dádivas. Transcendemos o medo e o preconceito. Chegamos ao lugar mais sublime de todos, o de sermos verdadeiramente humanos, na nossa inteireza. Garanto-vos! Eu, mãe de uma adolescente portadora de deficiência, que celebra hoje 16 primaveras. Provavelmente, o ser humano mais perfeito, com quem mais aprendi e aprendo, diariamente. Pelo exemplo. De presença e amor incondicional. De aceitação. De inclusão. Parabéns, meu amor!