Presidente chinês reúne-se com Putin em período de crescente isolamento do líder russo
O presidente chinês, Xi Jinping, vai reunir-se hoje, em Moscovo, com o homólogo russo, Vladimir Putin, que enfrenta um crescente isolamento no cenário internacional desde o início da guerra na Ucrânia.
O governo chinês não deu detalhes sobre os objetivos da visita. Antes da invasão à Ucrânia, em fevereiro de 2022, Xi e Putin tinham declarado uma "amizade sem limites", contudo a China tem tentado manter uma posição neutra no conflito.
Pequim apelou ao cessar-fogo e às negociações no mês passado, mas Washington afirmou que isso validaria as vitórias do Kremlin no terreno de guerra.
Na semana passada, Pequim comunicou que Xi iria visitar Moscovo, entre hoje e quarta-feira, e Moscovo limitou-se a dizer que Xi deve chegar hoje ao meio-dia e encontrar-se mais tarde com Putin.
As duas nações partilham uma fronteira com mais de quatro mil quilómetros de distância e Moscovo é um importante fornecedor de petróleo e gás para a China.
Pequim considera ainda a parceria com o país vizinho fundamental para contrapor a ordem democrática liberal, numa altura em que a relação com os Estados Unidos atravessa também um período de grande tensão.
A reunião dá a ambos os líderes a oportunidade de mostrarem que têm "parceiros de peso" numa altura de relações tensas com Washington, disse Joseph Torigian, especialista em relações sino-russas na American University, em Washington, citado pela agência Associated Press.
"A China pode sinalizar que, se as relações com os Estados Unidos continuarem a deteriorar-se, poderão fazer muito mais para ajudar a Rússia na sua guerra contra a Ucrânia", disse Torigian.
Alguns analistas apontam para um paralelo entre as reivindicações russas no território ucraniano e as reivindicações de Pequim em Taiwan.
China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas.
Juntamente com a Índia e outros países que afirmam neutralidade no conflito na Ucrânia, a China intensificou a compra de petróleo e gás russo, ajudando o Kremlin a reduzir as perdas infligidas pelas sanções ocidentais.
Pequim parece ter cumprido em grande parte as advertências dos Estados Unidos para não fornecer apoio militar.
A reunião desta semana ocorre após o anúncio do Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia, que acusou Putin de ser pessoalmente responsável pelo rapto de milhares de crianças da Ucrânia. Os governos que reconhecem a jurisdição do tribunal vão ser assim obrigados a deter Putin se ele visitar o seu país.
Putin ainda não comentou o anúncio, mas o Kremlin rejeitou a medida como "escandalosa e inaceitável".
Em jeito de desafio, Putin visitou a Crimeia e a cidade portuária ucraniana ocupada de Mariupol durante o fim de semana para assinalar o nono aniversário da anexação da península da Crimeia pela Rússia.
Num artigo publicado na segunda-feira no jornal russo Russian Gazette, Xi afirmou que a China tem "promovido ativamente conversações de paz", mas não anunciou nenhuma iniciativa.
"A minha próxima visita à Rússia vai ser uma viagem de amizade, cooperação e paz", escreveu Xi, de acordo com o texto divulgado pela agência noticiosa oficial Xinhua.
"Uma maneira razoável de resolver a crise" pode ser encontrada se "todas as partes abraçarem a visão de uma segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável", escreveu Xi.
A viagem segue o anúncio surpresa do reestabelecimento das relações diplomáticas entre o Irão e a Arábia Saudita, após uma reunião, em Pequim, numa vitória diplomática para o governo de Xi.
O líder chinês quer ser visto como um estadista global, que está a "desempenhar um papel construtivo" ao falar sobre paz, mas é improvável que pressione Putin para acabar com a guerra, disse Torigian.
Pequim está preocupada com "possíveis perdas russas no terreno", mas não quer ser vista como estando a "possibilitar a agressão russa", acrescentou o especialista. "Eles não vão gastar capital político" a pressionar Moscovo a negociar um acordo de paz, "sobretudo se acharem que isso não lhes trará benefícios", explicou.