Madeira

Denúncias de "obras inúteis" na Madeira volta a ser tema

O presidente do Governo Regional e o seu antecessor são visados na reportagem.   Foto Arquivo/Aspress
O presidente do Governo Regional e o seu antecessor são visados na reportagem.   Foto Arquivo/Aspress

No dia em que a Comissão Parlamentar de Inquérito às obras inventadas vai ouvir o denunciante Sérgio Marques, o Diário de Notícias (Lisboa) dá conta de uma reportagem onde reforça a posição, sobretudo da oposição, de que tem havido um rol de "obras inúteis" na Madeira que põem em causa a governação social-democrata desde 1976 até agora. A peça faz manchete na edição de hoje com o título "150 milhões para parar tsunamis e denúncias de outras 'obras inúteis'", o artigo diz que "antigos governantes nos executivos de Jardim e Albuquerque falam de 900 milhões de euros em empreitadas na Madeira que o CDS, agora aliado do PSD, diz serem 'desprovidas de utilidade'. Oposição alerta para 'saque ao erário público', que não parou", pode-se ler na primeira página que remete para as páginas 8 e 9 daquele matutino.

O dia em que Sérgio Marques vai esclarecer as “obras inventadas” e o favorecimento dos grupos

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No interior, o jornalista Artur Cassiano, que tem sido autor das outras reportagens sobre a Madeira, calcula que as tais 'obras inúteis' custaram 900 milhões de euros aos cofres regionais, aponta baterias não só ao longo período de governação de Alberto João Jardim como ao que já leva oito anos de Miguel Albuquerque, sentenciando logo a abrir que "o 'abraço de urso' do PSD está a reduzir os centristas à insignificância eleitoral".

"Quase 900 milhões de euros em 'obras inventadas', a expressão usada por Sérgio Marques e Miguel Sousa [antigos governantes de Miguel Albuquerque e de Alberto João Jardim], ou 'obras inúteis (...), despesas inúteis, desperdícios sem qualquer justificação, obras sem qualquer utilidade' como José Manuel Rodrigues, então líder do CDS e atual presidente da Assembleia Legislativa Regional, lhes chamou em 2011, a meses das eleições regionais desse ano", são reforçadas por psoições de dirigentes da oposição. E até são elencadas.

"As contas do partidos da oposição, em particular PS, IL e PCP, são simples de fazer: mais de 470 milhões em 'obras inventadas' do passado [por serem desnecessárias], 150 milhões para o prolongamento do molhe da Pontinha - que Pedro Calado, autarca do Funchal e ex-vice presidente do governo regional, diz ser 'importante' para proteger o Funchal de 'tsunamis', mas que o Estado não incluiu no PRR por não ser 'importante'- , 30 milhões para um teleférico em plena área protegida no Curral das Freiras e 240 milhões 'injetados por Miguel Albuquerque nas falidas sociedades de desenvolvimento'", são exemplos dados no artigo que, quem segue a vida pública regional, não constituem novidade.

E continua, citando o presidente do principal partido da oposição, "'Milhões e milhões desbaratados em obras megalómanas, inúteis. Mas existem muitas outras. E não se trata de um assunto do passado. É um assunto do presente. É assunto sobre o qual Miguel Albuquerque tem responsabilidades e que continua numa lógica despesista. Proliferam o cimento e o betão em vez de se apostar da habitação e na saúde', afirma Sérgio Gonçalves, líder do PS Madeira".

Depois de citar Élvio Sousa (JPP), Ricardo Lume (PCP) e Nuno Morna (IL), que dão mais 'achegas' sobre a matéria, o DN-Lisboa aponta ao passado. "Em 2011, a caminho das eleições regionais de outubro, que Jardim ganharia com maioria absoluta ['mas os gajos em 2012 querem eleições para me porem na rua, para me afastar. A certa altura eu tinha mais adversários dentro do partido do que na rua (...) o problema era aqueles sacanas lá dentro do partido', recordou recentemente, no DN, o ex-líder do governo Regional], o CDS, então liderado por José Manuel Rodrigues, atual presidente da Assembleia Legislativa Regional, no seu 'Roteiro' pela Madeira chamou-lhes 'obras inúteis' e criticou de forma 'severa' as políticas de Alberto João Jardim que mereciam 'condenação' pela 'incompetência' e pela 'péssima' maneira de como 'geriram os dinheiros públicos da região nos últimos anos'", citam palavras de há 12 anos.

CDS sob ataque

Num artigo que aponta miras ao CDS, oposição no passado, e CDS, na actual estrutura governativa, o DN lembra que José Manuel Rodrigues, em 2011, "para que dúvidas não houvesse, deixou claro que 'aqui, o CDS sempre foi oposição ao PSD e o resultado de domingo demonstra que as pessoas souberam distinguir e apostaram no CDS como alternativa' e que a 'dívida criada pela governação PSD' tinha uma leitura óbvia: 'Jardim foi o pioneiro e o coveiro da autonomia'".

Anos mais tarde, "a opinião manteve-se", recorda. "Em 2018, a cerca de um ano das regionais de 2019, era já Rui Barreto líder do CDS, José Manuel Rodrigues não perdia o foco: 'Estes são os resultados das políticas sociais-democratas, e se alguém tem responsabilidades é, apenas e só, o PSD que governa a Madeira há 42 anos (...), este governo mantêm o sufoco fiscal sobre quem investe, trabalha e produz riqueza na nossa terra (...), uma pesada carga fiscal que atrofia o investimento, a competitividade e o crescimento económico (...). Pouco ou nada mudou (...). Este é um governo conformista, sem coragem, sem ousadia e ambição para fazer as reformas necessárias ao presente e ao futuro da Região'".

E, mais recentemente, "em 2019, a seis meses das eleições, Rui Barreto alinhava nas críticas: 'O PSD dá sinais de desorientação e falta de adesão à realidade. Já não percebe quais são as principais prioridades, e uma delas, a mais importante, é a saúde. É preciso investir na saúde e dar segurança e dignidade às pessoas'", algo que viria, como se sabe, a resultar na aliança parlamentar pós-eleições, garantindo um governo de coligação pela primeira vez na história democrática da Madeira.

"Ficou meia geringonça. E agora quase geringonça nenhuma. As últimas sondagens conhecidas colocam o CDS de Rui Barreto, caso não fosse em coligação, no patamar mais baixo de sempre. Tradução um: reduzido à insignificância eleitoral. Tradução dois: não eleger sequer um deputado. O amargo de boca? Se a 'ala esquerda' centrista alinhada com José Manuel Rodrigues - que deu ao CDS os 'melhores resultados de sempre' - tivesse travado a 'ala direitista' de Rui Barreto, o CDS não 'estaria hoje em vias de extinção' na Madeira e não teria tido o 'quarto pior resultado desde 1976. Só 8 mil pessoas votaram em nós'. Na verdade, foi ligeiramente mais: 8246 votos", citam "fonte da estrutura centrista madeirense".

Inclusive o artigo termina citando o ex-líder do CDS, Ricardo Vieira, que no 'Debate da Semana', programa da TSF Madeira, "disse ainda ser 'curioso o senhor presidente do Governo vir dar confiança política a um secretário indicado pelo CDS. E depois, esse mesmo secretário, após uma comissão política do CDS, vir dizer que tem a confiança política do presidente do Governo que é de outro partido'. E terminou a frase assim: 'Nesta Região tudo se passa'."