Portugal com Itália, Sérvia e Letónia em projecto para promover circo participativo
Portugal, Itália, Sérvia e Letónia vão selecionar 32 participantes desses e outros países para desenvolver, até 2024, laboratórios, residências e novas produções na área do circo participativo, revelou hoje o parceiro nacional do consórcio financiado pela União Europeia.
O projeto em causa é o "Beta Circus", representa um investimento de 200.000 euros suportado pelo programa Europa Criativa e é coordenado pela consultora portuguesa Bússola, que, a partir de Santa Maria da Feira, se associou para o efeito à companhia italiana Teatro Necessario, ao centro de artes circenses contemporâneas Ludifico, da Sérvia, e ao centro artístico letão Rigas Cirks.
Um dos diretores da Bússola, Daniel Vilar, explica que essas quatro entidades já são parceiras de longa data e que, após uma primeira edição do Beta Circus focada na Nova Magia, "num momento em que apenas era possível obter formação nessa área em língua e território franceses", a aposta é agora, três anos depois, num formato de trabalho que tem estado ausente das artes circenses.
"Partimos de uma observação comum: a metodologia das artes participativas está largamente desenvolvida à escala europeia, em diversos domínios artísticos, mas há pouquíssimos exemplos da sua aplicação no circo. Assim, a segunda edição do Beta Circus irá destacar o circo participativo, tentando contribuir para a capacitação e disseminação dessa metodologia no setor", declara à Lusa.
A primeira fase do projeto, em curso até 24 de abril, abrange uma chamada pública de que resultará a seleção de 32 participantes, a repartir por dois grupos: um dedicado a coletivos de circo de qualquer país elegível ao programa Europa Criativa e outro reservado para coletivos com experiência em arte participativa, nesse caso só para candidatos dos quatro países em consórcio.
Segue-se uma etapa de capacitação com recurso a um laboratório artístico na Letónia, no contexto do festival ReRiga, e a outro em Portugal, durante o congénere Leme, de Ílhavo. "Nesses laboratórios, os artistas participantes terão sessões com mentores e convidados, discutindo possibilidades de aplicação da metodologia da arte participativa ao contexto do circo e criando competências para a terceira etapa do projeto", adianta Daniel Vilar.
Nessa fase final, em 2024, serão então promovidas "quatro experiências de circo participativo, uma em cada país parceiro". O trabalho irá envolver residências de três semanas para cocriação com a comunidade local e culminará em quatro espetáculos participativos no mesmo ano: um para estreia em junho em Novi Sad, na Sérvia; outro para lançar em agosto no festival Tutti Matti per Colorno, em Itália; um terceiro para apresentar na Noite Europeia do Circo em Riga; e o quarto para première em Ílhavo, também no Leme.
A grande expectativa de Bruno Costa, codiretor da Bússola, é que o Beta Circus permita "observar nos anos seguintes um aumento da expressão do circo participativo à escala europeia", para o que contribuirá a disseminação dos próprios resultados da experiência. "Os principais beneficiários diretos são os artistas e, a um segundo nível, todo o setor do circo europeu, através de ferramentas que o projeto irá produzir para alargar o impacto da iniciativa, como um manual de boas-práticas e um documentário de acesso livre e gratuito", revela.
Daniel Vilar admite que, à semelhança de outros países periféricos, Portugal ainda "é um país emergente na cena do circo contemporâneo europeu" e tem sido prejudicado pelo "atraso no reconhecimento formal desse domínio artístico e no seu financiamento público", mas está otimista quanto aos próximos tempos. "Atualmente, o circo contemporâneo está em plena expansão em Portugal e é necessário criar oportunidades para que os artistas possam desenvolver e apresentar o seu trabalho de forma cada vez mais sustentada e profissional, o que passa por ir além das questões técnicas abordadas na formação-base de circo", defende.
Para esse responsável, isso passa por ver para lá do "mero virtuosismo" e por equacionar outras dimensões do circo, "como o espaço público, a arquitetura, a relação com a comunidade, o design e outros aspetos que contribuem para uma evolução contínua do setor e para a crescente aproximação do setor português ao mercado europeu".