Madeira

Quase 90% do valor do peixe de aquacultura da Madeira provém da exportação

Esta quinta-feira, sexagésimo dia do ano, quando faltam 305 dias para o termo de 2023, especialistas iniciam, na Região, um debate sobre a aquacultura e, ao DIÁRIO, asseguram a qualidade do peixe produzido em cativeiro

Na Madeira, a produção de aquacultura é sobretudo de dourada. 
Na Madeira, a produção de aquacultura é sobretudo de dourada. , Fotos: Arquivo/Aspress

Conheça aqui a agenda que marca esta quinta-feira

No ano passado, quase 90% do valor da venda do peixe produzido em aquacultura, na Madeira, foi proveniente da exportação, com o pescado a ter o continente e os Açores como destino. O mercado regional absorve apenas 12,4% da produção, quota de mercado que tem vindo a subir gradualmente. Em 2021, fixava-se nos 9,7%.

Os dados oficiais revelam que em 2022, a Região alcançou novos máximos, com 1.597,4 toneladas de dourada, mais 2% do que no ano anterior, quando tinham sido produzidas 1.565,7 toneladas deste peixe em aquacultura offshore, nomeadamente nas jaulas existentes na Ponta de São Lourenço, na Ribeira Brava e na Calheta.

Recorde foi igualmente conseguido no que ao valor diz respeito. Em 2022, as vendas ascenderam a 8,4 milhões de euros, montante que traduz um crescimento de 9,2% face a 2021, com 7,7 milhões de euros.

A nível mundial, de acordo com o último relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), reportando-se ao ano de 2020, 50% do pescado consumido a nível mundial (89 toneladas) era proveniente de produção em aquacultura.

No caso da Madeira, embora a quantidade produzida localmente permitisse a autossuficiência da Região, a verdade é que a quase totalidade desse peixe segue para o exterior, acabando os madeirenses por terem de consumir peixe produzido noutras águas que é importando por, por exemplo, da Turquia.

Actualmente, de acordo com os números avançados pela Secretaria Regional de Mar e Pescas, a aquacultura, na Madeira, emprega directamente 70 trabalhadores.

Qualidade não pode ser questionada

Todas as variáveis que se colocam à produção de pescado em aquacultura vão estar em debate hoje e amanhã, na Madeira, no âmbito das III Jornadas de Aquacultura, um evento anual, organizado pela APEZ - Associação Portuguesa de Engenharia Zootécnica, que resolveu trazer, este ano, este encontro até à Região.

O DIÁRIO falou com Ana Sofia Santos para perceber um pouco mais os objectivos que estão pode detrás destas jornadas, que juntam especialistas nacionais e regionais, muitos dos quais ligados a centros de investigação de renome internacional.

A presidente da APEZ não tem dúvidas quanto à segurança e qualidade dos peixes produzidos em aquacultura, enaltecendo a qualidade das águas regionais para um produto de superior, nomeadamente no que à dourada diz respeito.

“O peixe de aquacultura é tão apetecível e de tão boa qualidade como o peixe selvagem, com a grande vantagem de que o peixe de aquacultura não está contribuir para a diminuição das reservas marinhas”, sustenta a engenheira zootécnica, que recusa os “filmes de terror” associados à produção, salientando que a legislação europeia e nacional é “muito restrita” quanto à utilização de tudo o que sejam substâncias… sejam hormonas ou outro tipo de coisas… não é possível serem utilizados na produção animal”, garante.

Ana Sofia Santos garante, também, que o tipo de aquacultura que se pratica na Madeira, aquacultura offshore, não tem qualquer impacto no ambiente. “Os animais estão no seu ambiente natural, com densidades controladas, têm o alimento natural que está no oceano, e que eles apanham, e são alimentados, para além disso. E podem dizer que os dejectos ou os resíduos dos animais vão ter um impacto…não, são animais que em vez de andarem num cardume, à solta, estão num cardume, num espaço localizado. Não um impacto ambiental na zona onde eles estão”, assegura a especialista.

Quem também discorda dos mitos ou das “mentiras” que se têm difundido quanto à produção de peixe em aquacultura é Isidro Blanquet, que, ao longo da sua carreira profissional já trabalhou com produção de peixe em cativeiro, nas suas mais variadas fases.

O presidente da Associação Portuguesa de Aquacultores (APA), que também vai estar na Madeira para este encontro que hoje se inicia, referiu ao DIÁRIO que, na origem dessas ‘inverdades’ está a “falta de informação”, em parte devido ao pouco tempo que actividade tem. “Estes anos todos estivemos preocupados na produção e desenvolver a tecnologia, e faltou-nos muito a vertente da comunicação”.

Isidro Blanquet reforça que “o peixe de aquacultura é muito mais controlado” do que o selvagem, ainda mais nos dias de hoje em que a poluição dos mares é um problema grave. “O peixe de aquacultura é controlado desde que nasce, até que vai para o mercado. Todo ao ambiente em que ele vive, a qualidade da água, o alimento que ele ingere, tudo isso é controlado e sujeito a controlos muito apertados. Não há maior segurança alimentar do que com um peixe de aquacultura”, sustenta o especialista nestes assuntos.

Na sua opinião, a Madeira tem margem para crescer na produção de peixe, mais não seja porque, actualmente, apenas produzimos 2% da quantidade de pescado consumido por ano, tendo o país um déficit de quase 70%, quantidade que é importada, o que se traduz em 900 milhões de euros por ano, “quando temos condições excepcionais para o produzir, quer no continente, quer na Madeira”.

Sobre as queixas quanto aos impactos na paisagem e no turismo, Isidro Blanquet refere a necessidade se estabeleceram “equilíbrios e prioridades”, reconhecendo ser possível minimizar o impacto visual da actividade, aspecto que tem levado a várias críticas e oposições ao crescimento do número de jaulas em actividade na Região.

O facto de cada português consumir, em média, 60 quilos de peixe por ano, leva ao presidente da Associação Portuguesa de Aquacultores a defendera necessidade de se investir mais neste sector.

No caso da Madeira, reconhece as condições de excelência que a Região possui para a prática desta actividades, colocando, desde logo, a temperatura da água como um dos factores mais determinantes para a qualidade do peixe produzido em águas madeirenses, nomeadamente no caso da dourada, um peixe de águas mais quentes. “São condições muito propícias para o crescimento dos peixes”, embora ressalve que, neste aspecto, a Madeira ainda consegue ter vantagem sobre o Mediterrâneo, porque lá, porque as águas são mais quentes, o peixe tem um crescimento mais rápido, mas com menor qualidade, o que não acontece na Região.

Estes e outros temas serão abordados pelos vários especialistas que vão participar no encontro que, hoje e amanhã, decorre no Castanheiro Boutique Hotel. Caberá ao secretário regional de Mar e Pescas, Teófilo Cunha, presidir à sessão de abertura destas jornadas, pelas 14 horas desta quinta-feira. O programa do evento pode ser consultado na sua página oficial.

Outras iniciativas marcam a agenda deste segundo dia do mês de Março

Política

Por ser quinta-feira, são várias as reuniões dos executivos municipais que têm lugar. Em Santa Cruz, esse encontro está agendado para as 9 horas, enquanto no Funchal, a reunião acontece às 9h30. Hoje, a mobilidade suave será um dos temas em cima da mesa, com os vereadores eleitos pela Coligação Confiança a pretender questionar o executivo liderado por Pedro Calado sobre “o prometido trabalho nesta área”. Em função das ‘provas dadas’, a oposição equaciona a possibilidade de propor a abertura de um procedimento para elaboração de um ‘Regulamento para a Mobilidade Suave no Funchal’, procurando, entre outros aspectos, disciplinar o uso de trotinetes na cidade.

Na Assembleia Legislativa da Madeira, às 9 horas, tem início mais uma reunião plenária, onde, entre outros assuntos, serão debatidas propostas da oposição para a criação da Denominação de Origem Protegida para a Castanha ou o aumento do preço pago aos agricultores por cada quilo de banana.

Antes disso, às 9h15, Jorge Carvalho presidirá à sessão de abertura do 1.º Encontro Regional de  Sucesso Escolar e Inovação Pedagógica, que acontece na Escola da APEL. Às 12 horas, Miguel Albuquerque visita as instalações do Instituto de Administração da Saúde (IASAÚDE), na Rua das Pretas. O financiamento da saúde será, certamente, um aspecto a abordar.

Para as 16 horas, está agendada a assinatura de protocolo entre a Câmara Municipal de Câmara de Lobos e a Rede Europeia Anti Pobreza, onde vai estar presente o representante da instituição europeia, bem como José Manuel Rodrigues, presidente da ALRAM.

Cultura

Às 14h30, na Biblioteca Municipal do Funchal, tem lugar a 6.ª Edição do Roteiro Cultural. Ao final da tarde, às 18 horas, será inaugurada a exposição colectiva ‘Forrado’, de Ana Vidigal e Hugo Brazão, na Quinta Magnólia – Centro Cultural. Vão estar presentes o presidente do Governo Regional e o presidente da Assembleia Legislativa da Madeira.

Já às 19 horas, acontece a sessão inaugural da 3.ª edição da Conferência Internacional ‘Think+ 2023 International Conference on Digital Economy, Tourism and Human Development, que decorre hoje e amanhã, no ISAL - Instituto Superior de Administração e Línguas.

Saúde

Logo à tarde, por volta das 18h30, o auditório do Colégio dos Jesuítas, na Universidade da Madeira, recebe a iniciativa do IPATIMUP - Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, em parceria com a Secretaria Regional de Saúde e Protecção Civil, que visa ‘Tratar o Cancro por Tu’, acção, em jeito de conferência, que pretende desmistificar tudo o que envolve esta doença e esclarecer os madeirenses sobre as várias nuances deste problema.

‘Tratar o cancro por tu’ com segunda edição no Funchal

A iniciativa centra atenções no diagnóstico e tratamento do cancro da mama

Na Madeira vão juntar-se especialistas da área, como Fernando Schmitt, Joana Paredes e Manuel Sobrinho Simões. Sara Câmara, médica ginecologista madeirense será uma das especialistas convidadas. Entre a lista de participantes, destaque, também, para o actor Jorge Serafim. Leia mais sobre este assunto na edição impressa de hoje. 

Saiba o que marcou este dia no passado:

1918 - Primeira Guerra Mundial: A Alemanha invade Kiev, na Ucrânia.

1925 - Começam as primeiras emissões regulares de rádio, por iniciativa de Abílio Nunes dos Santos Júnior.

1941 - Holocausto. Heinrich Himmler visita o campo de extermínio de Auschwitz, na Polónia. Ordena a expansão maciça das instalações e a abertura do subcampo de Birkenau.

1966 - A sonda russa Venera 3 aterra em Vénus.

1977 - O Governo português fixa o preço de um pacote de bens essenciais, o "cabaz de compras", numa tentativa de controlo da inflação, algo que hoje vem sendo reivindicado face ao aumento galopante dos preços. 

2002 - Primeiro dia de sindicalismo legal na PSP, com a constituição da Associação Sócio-Profissional da Polícia como sindicato, entidade que, nos últimos anos, tem reivindicado melhores condições profissionais para os polícias. 

2005 - A Direcção-Geral de Saúde ativa o plano de contingência da chamada gripe das aves. 

2016 - A primeira lei que criminaliza a violência doméstica entra em vigor na China.

2021 - O ex-Presidente francês Nicolas Sarkozy é condenado a três anos de prisão por corrupção e tráfico de influências. É o segundo chefe de Estado a ser condenado em França, após Jacques Chirac, em 2011.

2022 - O PCP vota contra resolução do Parlamento Europeu a condenar a invasão da Ucrânia por entender que "instiga a escalada da confrontação".

Pensamento do dia

"A víscera revolucionária era o coração; agora, começa a ser o estômago". Manuel Laranjeira (1877-1912), médico e escritor português.