Juristas de vários países querem que TPI investigue alegados crimes turcos contra opositores
Juristas de vários países anunciaram hoje ter solicitado ao Tribunal Penal Internacional (TPI) que inicie uma investigação sobre presumíveis crimes contra a Humanidade cometidos pelo Governo turco contra os seus opositores em todo o mundo.
O grupo de juristas submeteu perante o tribunal um relatório que inclui alegações de tortura, desaparecimentos forçados, prisões injustificadas e perseguições a cerca de 200.000 adversários do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
A Turquia não é membro do TPI, instância com sede em Haia (Países Baixos), mas os juristas consideram que o país pode ser alvo de um inquérito por presumíveis crimes contra 1.300 vítimas cometidos no território de outros Estados que tenham ratificado o Estatuto de Roma, o texto fundador do tribunal.
"Os responsáveis turcos cometeram crimes contra a Humanidade e contra centenas de milhares de opositores ao regime de Erdogan", indicou o relatório submetido ao procurador-geral do TPI, o britânico Karim Khan.
Karim Khan "deve agora pronunciar-se sobre a possibilidade do tribunal abrir investigações que possam resultar no envolvimento de altos funcionários de um aliado da NATO", acrescentou a comunicação.
"Membros importantes do Governo [turco] não podem negar que são responsáveis, porque proclamaram arduamente a sua responsabilidade", declarou o antigo vice-primeiro-ministro belga Johan Vande Lanotte, um dos subscritores do pedido, numa conferência de imprensa.
Após terem recebido queixas de indivíduos ou grupos de indivíduos, o procurador-geral decide de forma independente os casos que pretende submeter aos juízes do TPI.
A queixa submetida ao TPI está assinada por um gabinete de advogados belga que representa diversas vítimas, por um "tribunal para a Turquia" que decorreu em Genebra em 2021, e ainda por um grupo europeu de juízes e procuradores.
Os 1.300 casos que surgem na queixa envolvem todas as pessoas que o Governo turco relaciona com o clérigo turco exilado nos Estados Unidos Fethullah Gülen, acusado por Erdogan de ter orquestrado o golpe militar falhado de 2016.
O relatório detalha 17 alegações de desaparecimentos forçados, em que as pessoas terão sido raptadas na Bulgária, Camboja, Moldova, Mongólia e Suíça, antes de serem enviadas para a Turquia.
As alegações de perseguição incluem o encerramento de escolas turcas no estrangeiro, abrangendo 522 professores e as respetivas famílias.
A queixa foi submetida em 09 de fevereiro, mas o anúncio desta foi adiado por algumas semanas devido ao devastador sismo de 06 de fevereiro que assolou o sul da Turquia e provocou no país mais de 44 mil mortos.