Rui Nabeiro era amigo da Madeira e um defensor da regionalização
O empresário, que hoje faleceu, visitou a Região em várias ocasiões. O DIÁRIO recorda hoje duas passagens: uma visita ao Porto Santo em 1994 e uma à Madeira, em 2014
O empresário Rui Nabeiro, fundador do grupo Nabeiro - Delta Cafés morreu hoje aos 91 anos, vítima de doença, no Hospital da Luz, em Lisboa. Este, que era um dos homens mais ricos do País, era também um dos empresários mais respeitados de Portugal, pelos vários quadrantes da sociedade, da esquerda à direita, sendo igualmente um defensor dos trabalhadores e dos seus direitos.
Morreu empresário Rui Nabeiro
O empresário Rui Nabeiro, fundador do grupo Nabeiro - Delta Cafés morreu hoje aos 91 anos, vítima de doença, no Hospital da Luz, em Lisboa, disse à Lusa fonte do grupo.
O empresário, hoje falecido, visitou a Região em várias ocasiões. O DIÁRIO recorda hoje duas passagens: uma visita ao Porto Santo em 1994 e uma à Madeira, em 2014.
Conhecido como ‘Rei do Café’ e considerado um dos homens mais ricos de Portugal, Rui Nabeiro passou pelo Porto Santo no final de Agosto de 1994.
Apesar de ter estado apenas oito horas na Ilha Dourada, Rui Nabeiro teve a amabilidade e disponibilidade de falar com o DIÁRIO, tendo sido publicada uma notícia a 1 de Setembro desse ano, com chamada de capa.
Tratou-se de uma “visita de trabalho” para se encontrar com os irmãos Castro, à época representantes no Porto Santo dos Cafés Delta. O seu interesse pela ilha, à época, centrava-se nos negócios que dizia “irem muito bem”. O elogio agradou a José António, um dos irmãos Castro.
Durante a conversa com o DIÁRIO, Rui Nabeiro teve tempo para dizer que defende a regionalização. E salienta que deixou a política activa, porque um empresário deve ser independente. Pelo meio, ainda condenou os ataques que a classe política continental movia, à época, ao então presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim.
“Defendo que todas as regiões devem pugnar pelo regionalismo”
Interrogado pelo DIÁRIO sobre se concordava com a pretensão do então líder nacional do PSD, Cavaco Silva, de expurgar a regionalização da Constituição, Rui Nabeiro não hesitou na resposta: “Defendo que todas as regiões devem pugnar pelo regionalismo”.
E concretizou:
“Como o governo pensa de maneira diferente, creio chegada a altura de se fazer uma profunda reflexão. É possível que a ideia não vá adiante, até porque a zona onde estou situado é uma zona de regionalismo, que não se acaba assim tão facilmente”. Rui Nabeiro
“Intervenção de Jardim é saudável para o País”
À época, em 1994, dizia não ser uma pessoa de “muitas relações” com Alberto João Jardim, mas Rui Nabeiro considerava-o um homem sincero e frontal.
O 'rei do café' foi mais longe ao afirmar não concordar com os ataques desferidos contra Jardim por certos sectores políticos continentais: “Eu poderia ter essa ideia, se não o conhecesse minimamente, mas não. É um político que diz as coisas na cara e isso não agrada. Pode ser agressivo, mas entendo que o faz num espírito saudável, para bem do País e da política nacional”.
Passagem pela Madeira em 2014: "Ainda aqui na cidade do Funchal, caminhava na rua e as pessoas abeiravam-se de mim, queriam cumprimentar-me e faziam-me votos para que continuasse a ser aquilo que tenho sido"
20 anos depois, o comendador Rui Nabeiro esteve de passagem pela Madeira para participar na abertura da edição de 2014 da Expomadeira. Nessa sua curta estada na Região, o patrão do Grupo Nabeiro, composto por 22 empresas de que é expoente máxima a Delta Cafés, acedeu a falar ao DIÁRIO sobre os seus negócios no mercado madeirense, bem como sobre as perspectivas empresariais que o grupo assumiu em tempos difíceis como são os da época, numa altura de grandes dificuldades na sequência da entrada da troika em Portugal.
Mas além da questão dos negócios, a responsabilidade e a consciência social foram dois tópicos abordados, já que eram e são uma das imagens que tem acompanhado o crescimento do Grupo Nabeiro.
A criação de emprego e todas as outras políticas de natureza sociais que foram implementadas pelo comendador Rui Nabeiro, uma realidade pouco comum no universo empresarial português - foram uma mais-valia que tem um reconhecimento claro da parte dos consumidores.
“As coisas nascem com as pessoas. Creio que aquilo que nós fizemos no âmbito social foi um pouco uma resposta àquilo que os nossos antepassados, os nossos familiares, pessoas do interior, pessoas humildes, passaram nesses tempos. Quando comecei a caminhar, a poder dar um passo, sentia necessidade de dar uma resposta a essas questões sociais. E, hoje, a nossa empresa é reconhecida a nível nacional e internacional como uma empresa de um nível social elevado, que sabe plantar, sabe semear e sabe colher. E o público em geral responde positivamente. E fá-lo porque conhece qual é a minha atitude, qual é a minha forma de estar na vida. E essa minha forma de estar na vida não é pensar apenas em mim, é pensar nas pessoas que me rodeiam, é pensar em quem está carente. Rui Nabeiro, em 2014
Ao DIÁRIO, Rui Nabeiro contou um dos episódios marcantes da sua vinda à Madeira:
Ainda aqui na cidade do Funchal, caminhava na rua e as pessoas abeiravam-se de mim, queriam cumprimentar-me e faziam-me votos para que continuasse a ser aquilo que tenho sido. Rui Nabeiro, em 2014
Dizia o empresário que isto era "bastante gratificante", "é um reconhecimento": "E por tudo isto, mais obrigado me sinto a ser todos os dias melhor e a tentar fazer mais em prol da comunidade", concluiu.
Figura ímpar lembrada por todos
A sua morte, hoje, aos 91 anos, espoletou uma série de reacções de vários quadrantes.
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Costa enaltece exemplo de cidadania, humildade e responsabilidade social
O primeiro-ministro, António Costa, defendeu que o legado de Rui Nabeiro, que morreu hoje, "ultrapassa largamente o papel de empresário exemplar, dentro e fora do país", elogiando o "percurso inspirador" e o exemplo de cidadania, humildade e responsabilidade social.
Montenegro elogia "exemplo de capacidade empreendedora e responsabilidade social"
O presidente do PSD, Luís Montenegro, recordou hoje Rui Nabeiro como "um homem bom, um exemplo de capacidade empreendedora e responsabilidade social", considerando que o empresário mostrou ser "possível criar riqueza com trabalho e inovação".
Ministro da Economia fala em perda enorme e destaca marca modernizadora
O ministro da Economia considerou que o desaparecimento de Rui Nabeiro, que morreu hoje, marca uma "enorme perda", destacando a visão estratégia do empresário e a importância que deu à responsabilidade social muito antes de esta entrar no debate.