Carlos Pereira considera que elogios de Álvaro Beleza ao Governo Regional são desadequados
Deputado do PS-Madeira na Assembleia da República comentou as declarações feitas ontem pelo também socialista e presidente da SEDES
Já no sábado, o também socialista André Escórcio tinha criticado as afirmações de Álvaro Beleza
É a reacção pública de um destacado socialista madeirense às declarações feitas pelo também socialista Álvaro Beleza, na qualidade de presidente da associação SEDES, que no sábado fez rasgados elogios aos governos de Miguel Albuquerque e de Alberto João Jardim, qualificando como “absolutamente extraordinário” o trabalho feito nas últimas décadas e apontando como um exemplo para o país.
“A primeira vez que vim à Madeira tinha 12 anos e ver o que se fez na Madeira é extraordinário. Eu, que sou continental, sinto-me orgulhoso da Madeira”, declarou o responsável associativo, no decorrer de uma conferência no parlamento regional, dedicada ao tema ‘Madeirensidade’, logo após à inauguração das novas instalações da SEDES Madeira, no Funchal, que contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
“Não é fácil ser oposição na Madeira” pois o trabalho do Governo é “absolutamente extraordinário”
O presidente da associação SEDES, Álvaro Beleza, fez rasgados elogios aos governos de Miguel Albuquerque e de Alberto João Jardim, qualificando como “absolutamente extraordinário” o trabalho feito nas últimas décadas e apontando como um exemplo para o país.
Ora, o deputado socialista madeirense na Assembleia da República, Carlos Pereira, recorreu à sua página de Facebook para rebater as afirmações de Álvaro Beleza que, no seu entender, "não são sustentadas", garantindo que "há muitos factos que demonstram isto".
Mas o parlamentar começa a sua intervenção enquadrando as posições:
A SEDES é uma entidade com objectivos claros e úteis numa sociedade que quer avançar e progredir, assumindo a importância dos contributos de todos . Logo no segundo artigo dos estatutos da SEDES pode ler-se que “A Associação constitui-se para o estudo, consulta, cooperação e promoção do desenvolvimento económico e social” ainda neste artigo, mas no número dois, refere também que “A Associação não tem carácter político, nem desenvolverá actividades que possam revestir aspecto partidário…” Falo disto porque este fim de semana foi inaugurado uma nova sede da SEDES no Funchal e as declarações do Presidente do Conselho Coordenador não me pareceram adequadas com a realidade da instituição que coordena. Carlos Pereira, deputado do PS-M na Assembleia da República
O deputado garante ter aguardado algumas horas "para, pelo menos, dar oportunidade ao Álvaro Beleza para explicar melhor as suas declarações ou, pelo menos, enquadrá-las num qualquer entusiasmo irresponsável ou num agradecimento insensato ou até numa deficiente falta de conhecimento da realidade ou, mais relevante ainda, do seu papel de promoção da equidistância partidária nesta importante entidade".
Mas isso não se verificou, como observa Carlos Pereira: "Nada disso ocorreu e eu lamento profundamente".
As intervenções da SEDES não devem ser levianas e deviam ser, como oiço com frequência, credíveis porque sustentadas . O essencial das declarações que foram públicas não são sustentadas e há muitos factos que demonstram isto que acabo de dizer. Carlos Pereira, deputado do PS-M na Assembleia da República
Aproveitando o balanço e usando de ironia, o socialista madeirense diz que está "a embrulhar o livro 'a Herança', publicado em 2015" que apresenta mais de 350 páginas de factos sobre os feitos extraordinários do governo da Madeira".
Talvez assim o rigor, pelo menos no que respeita a Madeira, poderá passar a fazer parte da instituição que aceitei pertencer . Carlos Pereira, deputado do PS-M na Assembleia da República
Carlos Pereira, que assim explica que também aceitou fazer parte da SEDES, diz que esta sua intervenção não representa nenhuma "ameaça" sobre o seu envolvimento no futuro da SEDES. Mas diz que há duas ou três coisas que afirma com segurança.
A SEDES começou mal na Madeira por várias razões e, em abono da verdade, as últimas declarações de Álvaro Beleza são apenas o corolário. Faço por isso um apelo a um reposicionamento do caminho que está a ser seguido porque a credibilidade exige transversalidade e independência. Carlos Pereira, deputado do PS-M na Assembleia da República
André Escórcio criticou no sábado as afirmações de Álvaro Beleza
Já ontem, o antigo vice-presidente, secretário-geral, deputado e autarca do PS-Madeira, André Escórcio, tinha criticado as declarações de Álvaro Beleza.
O que é inaceitável é que Vossa Excelência não falou e, repito, obviamente que não o podia dizer, como é que se operou a descaracterização da Região; compreendo que não podia falar dos 6.3 mil milhões de dívidas e das contabilidades paralelas; não podia falar dos 32,9% de pobres e em risco de pobreza, que corresponde a cerca de 75.000 habitantes; não podia abordar a teia de interesses que conduziram a camuflados monopólios; não podia falar das "obras inventadas" como caracterizou o ex-deputado Europeu Dr. Sérgio Marques, declarações objecto de Inquérito Parlamentar; não podia falar das graves carências habitacionais; não podia falar dos mais de 20.000 à espera de uma consulta ou de uma cirurgia; não podia abordar que nos últimos anos 17.000 madeirenses abandonaram a região; não podia equacionar a questão de 8.000 jovens que não estudam nem trabalham; não podia falar de um sistema educativo mais próximo do século XIX do que do século XXI; não podia abordar a rede de "casas do povo" e toda a sua estrutura clientelar; não podia abordar os dramas das perseguições e afastamentos silenciados. Não podia falar, reconheço, porque o momento não era propício. Compreendo. Mas podia ter falado de muita outra coisa, com total rigor, independência e não se comprometendo com nada. André Escórcio
E André Escórcio vai mais longe: "Vossa Excelência viu e continua a ver prédios, hotéis, flores e fica encantado. Não viu o tecido social esfarrapado. Não andou por ruas, becos, travessas e impasses a cheirar essa tal "Madeira Nova" que tanto o orgulha. Não viu nem sentiu os dramas da pobreza, porque se os visse não tinha, certamente, confundido crescimento com desenvolvimento. A pergunta que devia ter em mente talvez fosse esta: com os mesmos fluxos financeiros, desde 1976, não podia a Madeira ser hoje uma terra menos dependente, menos pobre e menos assimétrica?".
Deixa ainda alguns reparos à SEDES.
Tive funções político-partidárias e hoje estou completamente distante. Guio-me, apenas, pelas minhas convicções sociais. Apesar de escrever quase diariamente, julgo ser esta a primeira vez, desde há muito, que abordo um tema político onde em causa está o poder e a oposição. Nem militante sou, para que saiba. Mas não posso calar a injustiça. A balança da justiça tem dois pratos. Certo? Se a SEDES é isto, não auguro qualquer futuro nos estudos que venham a ser realizados na Madeira. Será mais do mesmo! André Escórcio