Obedecer, por temor, é coisa da Idade Média!
Já repararam que a grande preocupação de muitos “chefes” é procurar calar, denegrir e perseguir quem diz: “Não. Isso está errado!”
A frase não é minha. É de Luiz Antônio Gasparetto. Mas, poderia ter sido eu.
É impressionante como a nossa sociedade prepara-nos para obedecer e, de preferência, sem contestar. É muito mais conveniente para as “linhas de comando” que se obedeça cegamente. Desobedecer por desobedecer não faz sentido. Mas desobedecer porque se pensa de forma diferente, ou porque não se concorda, acreditando no caminho que se segue, é ato de bravura intelectual. O mundo precisa, cada vez mais, de pessoas assim.
Pensar exige que se tenha “cérebro” (muitos não o usam) e que se tenha coragem para atuar. Pensar e atuar de forma diferente não é para qualquer um. A pressão de grupo e das “organizações” é grande. É por isto que a coragem é tão admirada e a covardia tão desprezada e até ridicularizada. Já repararam que ninguém respeita um covarde?
O que aconteceu no navio NRP Mondego em que 13 elementos (quatro sargentos e nove praças do navio) se recusaram a cumprir uma ordem que lhes foi dada de efetuar uma missão de acompanhamento de um navio russo a norte do Porto Santo, alegando riscos de segurança é uma consequência de anos de desinvestimento militar em Portugal. Um problema generalizado em todos os ramos das forças armadas e que exige uma reflexão séria no nosso país sobre a nossa capacidade de defesa militar.
Quando era pequena, muitas vezes, os meus pais me diziam (para me forçarem a pensar sobre determinadas coisas) – Se alguém te disser para te jogares de uma ribanceira abaixo, vais fazê-lo? Pensa!
É fundamental que tenhamos consciência que a disciplina é necessária. Sem disciplina não há governo, nem organizações. Mas, disciplina não pode ser confundida com submissão que nos transforma em zombies. É importante desenvolver disciplina com pensamento crítico.
Virou moda de quem comanda de querer que se obedeça sem pensar. É no exército, é nos partidos políticos, é no governo, é na igreja, é nas empresas, é de quem tem poder de comandar a vida das pessoas. Até ao dia em que encontram alguém que lhes diga “Não. Isso está errado!”
Já repararam que a grande preocupação de muitos “chefes” é procurar calar, denegrir e perseguir quem diz isto? Por vezes, procuram até acabar com a vida profissional dessas pessoas. E se, em vez disso, se procurasse analisar o pensamento por detrás da atitude? Ganhariam certamente muito mais. Porque para ser “grande líder” há que ser líder de líderes e isto é o que determina equipas vencedoras, estratégias inteligentes e sociedades desenvolvidas com elevado grau de qualidade de vida. Neste momento, na Madeira, não temos um “grande líder”.
Estimular o cérebro dos subordinados para pensar é de quem tem o discernimento que uma equipa de gente inteligente é vencedora. Castrar o pensamento é abrutalhar as pessoas. Ao estimularmos o pensamento, os “chefes” ainda não perceberam que se ganha respeito e confiança de todos os subordinados e depois de toda uma comunidade. E ninguém é tão inteligente que não precisa das ideias dos outros.
Revoltarmo-nos contra o que está errado, contra leis injustas e contra a tirania é essencial para todos vivermos melhor. Às vezes, até parece que toda a nossa comunidade está anestesiada de tão submissa. Alguns até falam à boca pequena, mas não têm força anímica para reagir.
É preciso lutar contra as leis injustas que existem, é preciso exigir correção do que está mal, é preciso não deixar proliferar a cultura do “quero, posso e mando”. Uma andorinha não faz a primavera. Precisamos de um bando. Precisamos aprender a sermos corajosos com inteligência.
Já no ano passado escrevi neste espaço que havia que tomar medidas de fiscalização dos aumentos de preços. O que fizemos? Reagimos? É preciso chegarmos ao extremo de termos a corda enrolada no pescoço para o Governo da República e o Governo Regional fazerem alguma coisa?
Grande parte da população madeirense e portosantense é católica. No último artigo de opinião já escrevi que quem cala, consente. Não sei o que o Senhor Bispo do Funchal está à espera para tomar medidas. Não pense que a polémica dos abusos sexuais por padres aqui na Madeira vai cair no esquecimento. Todos os católicos estão atentos. Lembre-se que mais vale poucos e bons. Existe um velho ditado aqui na Madeira que diz que uma semilha pobre, apodrece toda a saca de semilhas. Não queira o Senhor Bispo ser lembrado pela sua inércia que contribuiu para a perda de fé. Já Thomas Jefferson dizia que “Revoltarmo-nos contra a tirania é obedecer a Deus”.
Sejamos reativos e não amorfos. Exijamos justiça e pensamento livre. Valorizemos os que pensam, desenvolvem pensamento crítico e são corajosos. Defendamos os mais vulneráveis. Não permitamos falhas contra a dignidade das pessoas. Exijamos comandos eficazes e eficientes e que as regras e leis sejam corretas e justas. Exijamos a correção de erros.
Pois, “Quando alguém compreende que é contrário à sua dignidade de homem obedecer a leis injustas, nenhuma tirania pode escravizá-lo”. Mahatma Gandhi