Silicon Valley Bank: o colapso
cinco dias antes do colapso, a forbes tinha considerado este um dos melhores bancos dos EUA
O colapso do Silicon Valley Bank veio abalar o sector financeiro e, apesar do Presidente do Eurogrupo ter afirmado que “não há exposição direta” do sistema bancário europeu, a verdade é que os efeitos negativos são já indisfarçáveis e aconselham prudência, responsabilidade, rigor e muita lucidez e firmeza, essencialmente para que não se repitam os erros do passado. Paschal Donohoe disse que “podem surgir a qualquer momento choques no sistema bancário”. E esta é a primeira questão que impõe uma reflexão: não me parece que este tipo de “choques” deva ser visto com esta aparente naturalidade e como uma inevitabilidade. Provavelmente quis já antecipar a situação do Credit Suisse, que leva a banca europeia a derrapar em bolsa, e evitar o alarme público, mas foi infeliz, pois não podemos aceitar o colapso, ainda que pontual, de Bancos com esta dimensão, sujeitos a uma apertada supervisão, como uma inevitabilidade. É uma reação perigosa que gera apreensão transversal num terreno onde deve imperar a estabilidade, a segurança, a confiança e a transparência.
É evidente que alguém falhou. E, por isso, o colapso era obviamente evitável. Há causas, há responsáveis e há responsabilidades que não podem deixar de ser apuradas, não só na administração e na gestão, mas também na supervisão e no controlo. Neste momento não são conhecidas as causas precisas da falência, mas o colapso do Silicon Valley Bank, tal como o colapso do Lehman Brothers, não podem ser aceites como fatalidades cíclicas absolutas, construídas sobre inevitabilidades imprecisas e abstratas, pois ocorrem por razões concretas, normalmente mal esclarecidas, mas sempre decorrentes de estratégias ou opções erradas, muitas vezes para além da lei, ignorando princípios éticos fundamentais, escapando aos mecanismos específicos de controlo, para servir interesses vorazes e pouco claros no âmbito de relações muito pouco transparentes.
Não podemos aceitar a opacidade e temos de ser consequentes em termos de apuramento de responsabilidades. Na Banca tudo tem de ser transparente, claro e muito simples. O que não se compreende é mau. Não é complexo, mas apenas mau. Só é bom e confiável o que se compreende de uma forma simples e natural.
É importante não repetirmos os erros da crise de 2008 e aqui temos já uma boa notícia: o Governo americano procura proteger os depositantes, mas rejeita o resgate do Silicon Valley Bank. É o caminho certo que a própria história apontou. O pânico da crise de 2008 levou a opções erradas que não mais podemos repetir. O que se fez em Portugal com a Banca falida foi um disparate absoluto.
Por agora, e por mais que os rostos apreensivos tentem desvalorizar a falência do Banco que a revista “Forbes”, cinco dias antes do colapso, havia considerado um dos melhores dos Estados Unidos da América (EUA), os efeitos financeiros transversais são evidentes e a sua dimensão futura dependerá apenas da forma como agirmos e reagirmos. E porque estamos a falar de contágio, espero que o colapso do Silicon Valley Bank não seja visto como aquele “pequeno” vírus de Wuhan que a “iluminada” Graça Freitas disse que se tratava apenas de uma situação distante.