Rússia elaborou plano para impedir aproximação de Moldova ao Ocidente
A Rússia elaborou uma estratégia para controlar política e economicamente a Moldova, impedir a sua aproximação à NATO e à União Europeia (UE), especialmente através da vizinha Roménia, e impor a língua russa na ex-república soviética.
Tal consta de um documento redigido em 2021 pelo Kremlin, juntamente com os Serviços de Espionagem Externa, o Serviço Federal de Segurança (FSB), os serviços secretos militares (GUR) e outros departamentos especiais, ao qual teve acesso um consórcio de órgãos de comunicação social internacionais e o Centro Dossier, do ex-oligarca e opositor exilado Mikhail Khodorkovski.
"Há uma estratégia para a submissão política e económica da Moldova", afirmou esta plataforma de investigação em russo, acrescentando, além disso, que "o Kremlin planeia impedir que o país se aproxime mais da Roménia e impor a língua russa" no país.
Os autores da estratégia estabelecem metas a alcançar nesta década, como criar oposição à influência da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental) e da UE na Moldova e obrigar o país a participar na aliança pós-soviética militar liderada pela Rússia, a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), na União Económica Eurasiática (UEE) e noutros projetos internacionais russos.
Inclui igualmente como objetivo solucionar o conflito no território separatista pró-russo da Transnístria atribuindo-lhe um estatuto especial -- sempre com a Rússia (que mantém tropas nessa região moldova) como mediadora.
O plano define também como meta a criação de um sentimento a favor da Rússia na sociedade civil, através de propaganda e de programas educativos.
A Rússia pretendia inicialmente evitar restrições aos meios de comunicação russos na Moldova, mas esse plano fracassou, já que no ano passado as autoridades moldovas encerraram seis canais de televisão russos, para proteger os cidadãos da desinformação.
O Kremlin tenciona, por isso, fortalecer a sua influência de outro modo, através da criação de uma rede de organizações não-governamentais (ONG) na república, onde "agentes de influência" russos possam estar sediados.
Uma destas ONG é a União Empresarial Moldovo-Russa, que foi fundada pelo ex-presidente do país, o socialista pró-russo Igor Dodon, juntamente com o filho do ex-procurador-geral da Rússia, Igor Chaika, recorda o Centro Dossier.
"O próximo passo do Kremlin será aumentar o eleitorado de políticos moldovos pró-russos, formar sentimentos pró-russos entre as elites moldovas e abandonar a política de 'romanização'", refere o consórcio.
A Rússia deve ainda aproveitar a dependência das importações russas para "neutralizar" a política europeísta do atual Governo e parlamento moldovos, contrária aos interesses do Kremlin.
Para tal, um dos principais métodos de pressão da influência russa na Moldova é a pressão económica, afirma o Centro Dossier, pelo que é importante manter o volume de fornecimento de gás ao país, onde o partido populista e pró-russo Shor anda há meses a instigar protestos antigovernamentais.
Moscovo ameaça com frequência Chisinau de cortar o abastecimento de gás à Moldova ou reduzir a respetiva quantidade, alegadamente devido à não-amortização da dívida acumulada.