Análise

Mais achas para a fogueira

Comissão de inquérito ainda vai a meio caminho mas já é possível tirar conclusões

A comissão de inquérito às “obras inventadas” pelo Governo Regional e aos alegados favorecimentos de alguns grupos económicos tem metade do trabalho feito. E desta opção que teve a concordância expressiva de 65% dos inquiridos na sondagem Aximage/DIÁRIO já é possível tirar algumas conclusões:

1. Luís Miguel Sousa e Avelino Farinha são comprovadamente favorecidos. Não por aquilo que motivou o expediente no qual foram chamados a participar, mas sim pela inteligência, capacidade de trabalho e competência que revelam na gestão dos seus grupos, agora com bem mais de metade do volume de negócios fora da Região, dinâmica que partilharam com transparência quando foram ouvidos no parlamento madeirense. Se beneficiaram da conjuntura e se aproveitaram as oportunidades, participando em concursos públicos e agindo de acordo com outras regras do jogo tiveram mérito, mesmo que a habitual inveja tenda a desvalorizá-lo. Convém lembrar que não são os únicos que expandiram importantes marcas regionais com o suor dos rostos de muitos madeirenses; que outros tantos, em várias áreas de actividade, faliram ou optaram por passar despercebidos; e que alguns preferiram fazer carreira noutros domínios, também geradores de visibilidade externa da Região.

2. A estratégia de ataque feroz a quem cria emprego e riqueza, internacionaliza a economia regional e envaidece o ego insular tem custos políticos, agravados pelo facto de coincidirem com o ano eleitoral. É estranho que nem todos tenham ainda percebido quem é que de facto vai surgir no boletim de voto e que por isso é o adversário natural a ter em conta. Disparar com insistência para tudo o que mexe na esperança de porventura acertar em algo vistoso é uma estratégia irrelevante.

3. Ouvidos que estão dois dos líderes dos principais grupos económicos há matéria mais do que suficiente para interrogar vários protagonistas com outra profundidade. Em boa hora o PCP decidiu convocar potestativamente Sérgio Marques. Mas não basta tê-lo presente em ‘on’. É preciso não perder o foco, com alusões dispensáveis a questões regimentais e similares.

4. Foi evidente um défice na escuta activa. Uns agarram-se demasiado ao guião engendrado. Outros fazem perguntas sem ouvir as respostas.

5. Mesmo que não tenhamos Mortáguas parlamentares exigia-se mais a quem compete escrutinar o executivo. E falta documentação de suporte ao contraditório. Tudo isto num País em que os casos de negligência grosseira na gestão da coisa pública acumulam-se, como prova mais um relatório da Inspecção Geral das Finanças, o mesmo que faz temer o pior sobre a forma como muitas empresas públicas tomam decisões. As ilegalidades, imoralidades e irresponsabilidades são tantas que o interesse colectivo tem sido ameaçado, apesar de tapado com muitos milhões de euros sustentados em pareceres jurídicos. Desconfiamos que a alegada justa causa encontrada para exonerar a CEO da TAP e assim salvar politicamente o governo, já sem o ministro causador dos distúrbios, vai custar aos contribuintes bem mais do que os 500 mil euros que geraram a polémica. Depois de todas as sentenças, a quem vamos pedir contas?