País

Diocese dos Açores recebeu nova queixa contra padre por alegado abuso sexual de menores

None

A Diocese de Angra, nos Açores, recebeu mais uma queixa contra um pároco já depois de ter o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica, disse hoje o bispo Armando Esteves Domingues.

"Aqui, nos Açores, já após a entrega do relatório (...), tivemos efetivamente mais outra pessoa que se queixou de abuso, concretamente na ilha de São Miguel", afirmou o bispo de Angra e ilhas dos Açores, à margem da assinatura de um protocolo na Universidade dos Açores, em Ponta Delgada.

Armando Esteves Domingues disse que mantém um canal aberto em que o próprio recebe paroquianos, tendo referido que a Diocese "vai estar atenta a quem queira falar".

"O nosso foco são efetivamente as vítimas. Estamos dispostos a acolher todas as pessoas que efetivamente precisem de conversar, de ser apoiadas", afirma o bispo de Angra.

O bispo frisou que "a Igreja está disposta a falar com as vítimas e ouvir o que é que necessitam da sua parte".

O responsável ressalvou que eventuais indemnizações às vítimas "têm que ser resolvidas no lugar próprio, sendo esta uma questão que a sociedade está a discutir", no âmbito de uma discussão que "tem que ser feita em conjunto com a Igreja".

Armando Esteves Domingues precisou que os dois padres acusados de alegados abusos sexuais não estavam referenciados nos arquivos da Diocese de Angra, "não havendo menções a qualquer tipo de participações e de cartas".

"Estamos todos sintonizados [Dioceses] em querer que o relatório e as denúncias tenham consequências e que se entre num tempo em que se valorize a vida.Estamos sincronizados num tempo de esperança de justiça também", declarou o bispo.

Armando Esteves Domingues precisou que os padres entretanto suspensos já não estão a celebrar as homilias nas suas paróquias.

Na quarta-feira, a diocese de Angra, nos Açores, suspendeu de funções dois padres que estão a ser investigados por alegados casos de abuso sexual de menores.

Em comunicado, o bispo de Angra, Armando Esteves Domingues, revelou que, da lista que lhe foi entregue a 03 de março pela Comissão Independente para o Estudo dos casos de Abuso Sexual de Menores na Igreja Católica em Portugal "constam dois nomes: um sacerdote de São Miguel e outro da ilha Terceira".

"O bispo diocesano já falou com ambos e, em conjunto, acordaram que os sacerdotes em causa ficarão impedidos do exercício público do ministério até ao final do processo de investigação prévia, que já foi iniciado na diocese e de acordo com as normas canónicas. Igualmente seguirá a participação ao Ministério Público", acrescentou.

O relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal identificou denúncias relativas a oito casos de alegados abusos ocorridos em sete concelhos dos Açores: dois nas Velas e um na Calheta, ilha de São Jorge; um no Faial; um em Angra do Heroísmo e um na Praia da Vitória, na Ilha Terceira; um no concelho das Lajes e outro em São Roque, ambos na ilha do Pico, refere ainda o comunicado.

"Estes alegados abusos terão sido cometidos entre 1973 e 2004, por pessoas diferentes", quatro das quais - três sacerdotes e um leigo - já faleceram.

A diocese acrescentou que, "depois da apresentação do relatório pela Comissão Independente, e após três anos de atividade sem qualquer denúncia, já recebeu uma nova denúncia, que envolve um sacerdote de São Miguel já falecido".

Um membro da Comissão Diocesana de Prevenção e Acompanhamento encontrou-se com a vítima e disponibilizou o "apoio da diocese para prosseguir este caminho de recuperação".

A Comissão Independente validou, a nível nacional, 512 dos 564 testemunhos recebidos -- entre janeiro e outubro de 2022 -, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815. Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.

Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos no período compreendido entre 1950 e 2022, o espaço temporal que abrangeu o trabalho da comissão.

O sumário do relatório, contudo, revela que "os dados apurados nos arquivos eclesiásticos relativamente à incidência dos abusos sexuais devem ser entendidos como a 'ponta do iceberg'".