Chuvas e ciclones são cada vez mais ameaçadores em Moçambique, diz ONG
A organização não-governamental (ONG) portuguesa Helpo considera que chuvas e ciclones são cada vez mais ameaçadores em Moçambique, país onde tem vários projetos nas áreas da educação, nutrição e emergência.
"Durante muitos anos, ocasionalmente voava a cobertura de uma escola, às vezes vinha uma rajada não se sabe de onde, mas esses eventos pontuais têm-se multiplicado", descreve Carlos Almeida, coordenador da Helpo em Moçambique.
Segundo refere, o cenário de "chuvas fortes e ciclones nos últimos anos é assustador".
"Depois dos ciclones Idai e Kenneth, em 2019, sentimos necessidade de ter um fundo de maneio para acudir à emergência" nas comunidades, explica, numa alusão a duas das mais graves intempéries de sempre no hemisfério sul.
"Estamos sempre com coração nas mãos nesta época do ano [entre novembro e abril] porque sabemos que vão chegar ciclones e que vão fazer estragos" -- e por vezes vítimas, como tem acontecido nestes últimos cinco anos, 2023 incluído, disse.
A educação é a principal área de atuação da Helpo, que já construiu 83 salas de aula nas províncias de Nampula e Cabo Delgado, pelo que a agressividade da meteorologia obrigou a rever procedimentos.
"Uma das medidas que estamos a tomar é fazer construção resiliente, com técnicas específicas" para resistir à força dos ciclones.
O resultado são edifícios escolares "muito melhores, mas muito mais caros".
"Os parceiros entendem que as salas de aula já não podem ser feitas ao mesmo valor", acrescenta, indicando que as comparações entre as marcas de destruição falam por si.
"É um pouco como a história dos três porquinhos, porque as casas bem construídas não sofrem absolutamente nada", descreve, recordando os diferentes impactos do ciclone Gombe que há um ano se abateu sobre a ilha de Moçambique -- onde a Helpo tem vários projetos em curso.
"A questão das alterações climáticas preocupa-nos muito, sobretudo junto à costa", sublinha.
Entretanto, a Helpo tornou-se parceira do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no que respeita à educação em emergência nas províncias de Nampula e Maputo (incluindo a cidade área da cidade).
Isto significa que a ONG deve estar pronta a intervir em situações de deslocação massiva de populações, que fiquem sem alojamento, por forma a garantir que as crianças não percam acesso ao ensino.
Ou seja, até terminar a época das chuvas, "o telefone da Helpo pode tocar" quando a meteorologia for mais severa.
Moçambique tem sido apontado em vários relatórios internacionais como um dos países mais vulneráveis às alterações climáticas.
O país tem mais de 2.500 quilómetros de costa, onde se concentra boa parte da população, e está na rota natural dos ciclones do sudoeste do Índico.
O país vive este ano uma época das chuvas com precipitação muito acima da média em várias partes do país.
Desde outubro, os desastres naturais já fizeram 117 mortos e há ainda a registar um número por calcular de campos agrícolas perdidos e infraestruturas danificadas.