A Guerra Mundo

Países do Sul Global ainda pouco envolvidos em soluções para o conflito na Ucrânia

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A última votação na Assembleia-Geral da ONU por "uma paz justa e duradoura" entre Rússia e Ucrânia mostrou que os chamados países do Sul Global ainda estão pouco envolvidos em soluções para o conflito, avaliou o analista Richard Gowan.

Gowan, um especialista no sistema das Nações Unidas, Conselho de Segurança e em operações de manutenção da paz, defendeu na quinta-feira, num artigo de opinião, que, embora a resolução votada no final de fevereiro na ONU tenha obtido um forte apoio - 141 votos favoráveis - , proliferaram os pontos de vista divergentes entre as nações que abstiveram ou votaram contra, maioritariamente países do Sul.

De acordo com o analista, enquanto os países ocidentais estão comprometidos em apoiar militarmente Kiev, os países não ocidentais estão mais inclinados em pedir uma paz negociada, sem, porém, apresentarem as propostas detalhadas para atingir esse objetivo.

"Ouvindo os debates da Assembleia-Geral e do Conselho de Segurança da ONU sobre a Ucrânia em fevereiro, ouvimos poucos sinais de que está a surgir uma posição unificada do Sul Global sobre o fim da guerra", disse Gowan, que é diretor do departamento da ONU no 'International Crisis Group', uma organização não-governamental (ONG) voltada para a resolução e prevenção de conflitos armados internacionais.

"Muitos países não ocidentais não fizeram nenhuma contribuição substancial. Enquanto os ministros europeus viajaram em massa das suas capitais para Turtle Bay [bairro de Nova Iorque onde está localizada a sede da ONU] para defender a Ucrânia, quase todos os seus homólogos de outras regiões ficaram de fora, deixando os comentários para os representantes permanentes em Nova Iorque", acrescentou o analista, em referência aos vários eventos que decorreram na ONU para assinalar um ano de guerra na Ucrânia, incluindo a votação da resolução.

De acordo com Richard Gowan, apenas 12 dos 54 membros do grupo africano e 14 dos 55 países asiáticos fizeram declarações sobre a Ucrânia na Assembleia-Geral ou no Conselho de Segurança.

Já o grupo latino-americano e caribenho contou com 12 dos seus 33 membros a referirem-se à situação que Kiev enfrenta, segundo uma análise publicada no 'site' do 'International Crisis Group'.

"Mesmo muitos dos emissários dos países não ocidentais que falaram, limitaram-se a declarações gerais sobre a necessidade de 'diálogo e diplomacia' para acabar com os combates. Apenas alguns países como Argentina, Equador, Gana, Libéria e Singapura exortaram expressamente a Rússia a retirar as suas tropas do território ucraniano, embora as resoluções já aprovadas anteriormente na Assembleia-Geral tenham feito essa exigência", frisou.

Contudo, registaram-se, nos últimos meses, sinais de que os Estados não ocidentais estão a interessar-se mais pelas opções de pacificação. 

O mais vocal tem sido o Brasil, onde o novo Governo de Lula da Silva tem mencionado a necessidade de se formar um grupo de contacto -- supostamente incluindo países como China, Índia e Indonésia -- para ajudar na busca por uma solução, segundo o analista. 

Já diplomatas sul-africanos lançaram informalmente ideias semelhantes para um formato de negociação, possivelmente envolvendo figuras políticas importantes de potências não ocidentais.