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Mal-estar com governo turco cresce à medida que aumentam os mortos

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Enquanto as equipas de resgate correm para encontrar mais sobreviventes, do sismo registado na segunda-feira, cresce o desespero e a raiva da população face à lentidão da resposta do governo turco.

O presidente da Turquia, o islâmico Recep Tayyip Erdogan, prometeu punir os saqueadores que invadiram lojas nas últimas horas no país e, embora reconhecesse alguns erros na gestão do desastre, pediu paciência e união.

O número de mortos pelos cimos registados na segunda-feira ultrapassa agora 17.000 na Turquia, segundo o mais recente balanço.

Embora existam mais de 100 mil elementos nas equipas de resgate, além do exército que foi mobilizado para resgatar sobreviventes, o clima de inverno e a extensão da área afetada pelo sismo estai a dificultar o trabalho.

"As pessoas entram nas lojas para roubar o que há porque não há outra opção, não há nada aberto, não há ajuda nem serviços básicos", disse Mehmet, motorista de escavadeira de 40 anos e morador de uma pequena cidade nos arredores de Iskenderun.

A casa de Mehmet, embora ainda esteja de pé, não pode acolher a sua família devido ao receio de deslizamentos de terra e a sua empresa não tem combustível, o que o impede usar a maquinaria para ajudar a remover os escombros.

"Erdogan só vai à televisão para dizer coisas, mas não ajuda as áreas do interior e muito menos esta província de Hatay, porque há muitos alevitas aqui", diz Mehmet.

Os alevitas são uma confissão próxima ao Islão, representando cerca de 20% da população da Turquia, onde desempenham um papel importante nos movimentos seculares e de esquerda.

Erdogan vai a eleições em 14 de maio, numa avaliação dos seus 20 anos no comando da Turquia.

A elevada inflação, de quase 58% em janeiro, tem esvaziado a sua popularidade, e administrar esta catástrofe pode selar o seu destino nas urnas.

"Ele veio com um terremoto e sairá com outro terremoto", prevê o jornalista da oposição Can Dundar, que teve que se exilar na Alemanha depois de ser condenado à prisão por reportagens no jornal Cumhuriyet.

"Erdogan chegou ao poder com a destruição do terremoto de 1999 e parece que irá com a destruição do terremoto de 2023. Este terremoto, que custou milhares de vidas, enterra-0 nos escombros da política", conclui o jornalista.

Na segunda-feira, um sismo de magnitude 7,8 na escala de Richter atingiu o sudeste da Turquia e o norte da vizinha Síria. Foi seguido de várias réplicas, umas das quais de magnitude 7,5.