Quanto vale a vida?
A Turquia foi palco de um sismo que provocou um rasto de destruição, mortes e caos em todo aquele território. Das imensas imagens que se tornaram virais há duas que não saem da cabeça: a primeira da criança recém-nascida, cujo nascimento se verificou debaixo dos escombros, tendo vitimado a progenitora e a imagem do pai que continua a segurar a mão da sua filha, já sem vida, em cima dos escombros. Ambas retratam, de formas diferentes, o milagre da vida, mas simultaneamente, retratam a dor da perda. Na primeira imagem, uma criança nascida que nunca conhecerá a mãe, no outro caso, o pai sobrevivente que perdeu a sua filha.
Apenas nestas situações, muitos de nós refletem sobre a sua conduta diária, redefinem prioridades e, poucos, alteram o curso da sua vida. No entanto, há uma reflexão que se pode fazer: no quotidiano quantos de nós vivem, verdadeiramente, para cumprir a sua missão e não para alimentar egos, resolver problemas de afirmação e dirimir no domínio público aquilo que não fizeram no domínio das suas vidas particulares?
Quando em final de carreira, no espaço mediático, vemos pessoas assumir que serviram quem quiseram e não aquilo que lhes era pedido na missão por si escolhida, estamos perante alguém que é “antes politicamente incorreto do que moralmente falso”, ou alguém que pretendeu servir-se dos outros para se realizar enquanto Ser, evangelizando-os segundo a doutrina por si criada? Quando verificamos que um político em funções tenta justificar um plágio mal-amanhado que outro lhe mandou apresentar, estamos perante alguém que assume a missão que lhe foi confiada por ser um verdadeiro “servidor da causa pública”, ou, simplesmente, alguém que é político sem qualquer propósito ou consciência, que está lá por ser mais confortável estar ali do que ser outra coisa qualquer? Podemos ainda recorrer ao exemplo daqueles que falam no “eu” em detrimento do “nós”, optando pela teoria da cabala, em detrimento da verdade dos factos, subvertendo, alterando e manipulando dados de terceiros apenas para terem algo com que sobreviver? Perceberão esses o valor da vida?
As imagens acima referidas, remetem-nos para momentos a sós com a nossa consciência, sobre o que é correto e aquilo que nos toca. Mas, na verdade, quantos de nós respondem afirmativamente a essa consciência quando se trata das missões a que decidiram dedicar as suas vidas, sejam eles padres, políticos ou jornalistas? Existe uma dimensão de comunidade, superior aos anseios e sonhos de cada um, em especial, daqueles que ocupam o espaço mediático? Tenho muitas dúvidas. Afinal quanto vale o tempo da sua vida? Para alguns, muito pouco.