Governo indiano pede a pessoas que abracem vacas no dia de São Valentim
O departamento de bem-estar animal do Governo indiano apelou hoje aos cidadãos para assinalarem este ano o Dia de São Valentim não como celebração do romance, mas como "Dia do Abraço à Vaca", para promover os valores hindus.
O Conselho de Bem-Estar Animal da Índia justificou este seu apelo sustentando que "abraçar vacas trará riqueza emocional e aumentará a felicidade individual e coletiva".
Os devotos hindus, que veneram as vacas como um animal sagrado, consideram que o feriado ocidental, que se celebra a 14 de fevereiro e é também conhecido como "Dia dos Namorados", vai contra os valores tradicionais indianos.
Nos últimos anos, hindus radicais invadiram lojas de cidades indianas, queimaram cartões e presentes e expulsaram casais de mãos dadas de restaurantes e parques, afirmando que o Dia de São Valentim ou Dia dos Namorados promove a promiscuidade.
Grupos políticos radicais, como o Shiv Sena e o Bajrang Dal, defendem que tais ações abrem caminho para reafirmar a identidade hindu.
Jovens indianos instruídos, independentemente da sua religião, habitualmente passam o feriado enchendo parques e restaurantes, trocando presentes e organizando festas para celebrar a data como qualquer outra festa indiana, especialmente desde que a Índia começou o seu processo de liberalização económica, no início da década de 1990.
O Governo nacionalista hindu liderado pelo primeiro-ministro Narendra Modi tem promovido uma agenda hindu, procurando impor a supremacia da religião às custas de uma nação secular conhecida pela sua diversidade.
Quase 80% da população de quase 1,4 mil milhões de pessoas da Índia é hindu, os muçulmanos são 14% e os cristãos, os sikhs, os budistas e os jainistas representam a maioria dos restantes 6%.
A vaca está há muito enraizada na mente hindu e é profundamente respeitada por muitos - tanto como as respetivas mães -, e a maioria dos estados indianos proibiu o abate de vacas, apelando agora o departamento de bem-estar animal para que as pessoas saiam à rua e as abracem a 14 de fevereiro.
O analista político Nilanjan Mukhopadhyay classificou a mensagem como "completamente louca".
"Desafia a lógica", comentou, acrescentando que "a parte lamentável é que isto tem agora aprovação oficial, evidenciando a eliminação de mais uma linha entre o Estado e a religião, o que é muito deprimente".
"Agora, o Estado está a fazer aquilo por que grupos políticos e religiosos faziam campanha", observou.