Candidatos a políticos governantes, há por aí?
Após a anunciada declaração com 36 perguntas, apresentada pelo Primeiro-Ministro, a fim de atestar a idoneidade para o exercício de cargo político no governo nacional, interrogo-me se não poderá estar a caminho, a introdução da famosa máquina da verdade. Fato inegável, é que começa a ser uma missão (quase) impossível, no continente, primeiro para quem recruta e depois, para quem exerce, a função de político com funções governativas. Por um lado, é bom. Por outro, nem tanto. É bom, porque é necessário retrazer para a política aquilo que nunca a deveria ter abandonado, isto é, os ideais acompanhados da ética republicana. É mau, porque corre-se o risco de cada vez mais, aqueles que poderiam acrescentar, não estarem interessados em ingressar numa função, onde, têm uma garantia antecipadamente, que a sua vida privada será alvo de profunda devassa. Vejamos a dificuldade no recrutar. Na atualidade, as gerações com idade para ocupar lugares políticos de governação, são na sua esmagadora maioria, aqueles que já não vivenciaram as agruras do (sobre)viver numa ditadura, onde para os que lutavam contra o regime, com perigo de vida, os ideais eram o estandarte da sua atuação. Hoje, salvo raríssimas exceções, inacreditavelmente, procura-se emprego na vida política. E, pasme-se, consegue-se. Os nefastos efeitos do neocapitalismo global, com a imposição do seu modo de vida, onde o consumir desnecessariamente é uma das regras, colocou as emergentes gerações, em escravos ao serviço da economia vigente. O desejo de poder, dinheiro e fama, embrulhados na fatal inflamação do ego, invariavelmente afasta o político dos seus concidadãos. O incentivo ao materialismo como ideal de vida, tornou-se num vírus de difícil combate, estando já confortavelmente instalado nas fundações da Democracia. Ora, neste cenário, é obviamente difícil recrutar quem genuinamente lute por ideais comunitários. Já no domínio de quem aceita um cargo governativo, admitindo que tem uma réstia de idealismo como linha orientadora, a sua vida enquanto governante, também não será fácil. A comunicação social, imprescindível numa Democracia, também ela, demonstra estar encantada pelo “canto das sereias” que agenciam o neocapitalismo global. Embora seja um erro generalizar, é evidente que a procura de audiências, leia-se vendas/faturação, demonstra que certa comunicação social, opta por um estilo de jornalismo sensacionalista, resvalando assim muitas vezes para o exagero. E num ambiente desta natureza, é muito provável que os/as poucos/as que restam com alguma centelha de ideais, não estejam interessados em “dar o corpo às balas”, realidade que origina quase automaticamente um afastar dos/as que potencialmente teriam condições pessoais para um desempenho aceitável. Cristalino é que sem um ideal claro de justiça, de ampla justiça, é impossível ser-se um bom político. Mas do mesmo modo que a comunicação social é imprescindível numa Democracia, um sistema judicial eficaz também o é, e o que neste capítulo temos vindo a assistir, revela-nos que o existente é excessivamente lento, onde a justiça quando é feita, muitas vezes já vem fora de prazo. Mas tenhamos sentido crítico, só o é, porque politicamente, aparentemente não há grande empenhamento em dotar capazmente, o sistema judicial de recursos humanos e materiais, para que se torne efetivamente eficiente e em tempo útil. Mas lá está, para isso são necessários políticos com ideais. Ainda os há?