Várias incógnitas em torno da tentativa de golpe um mês depois
O violento ataque às sedes dos três poderes do Brasil há pouco mais de um mês deixou até agora centenas de pessoas presas, operações policiais em curso e pontos de interrogação no ar, incluindo o papel do ex-presidente Bolsonaro.
As investigações estão em curso desde 08 de janeiro, quando uma multidão de radicais invadiu e destruiu os edifícios presidenciais, do Congresso e do Supremo Tribunal em Brasília, numa tentativa de golpe contra Luiz Inácio Lula da Silva.
"Um mês depois, continuamos a trabalhar firmemente na defesa da democracia, da união e da reconstrução do país", disse hoje o Presidente numa mensagem nas suas redes sociais.
As instituições voltaram ao normal, embora os tribunais ainda tenham um longo caminho a percorrer para resolver o 'puzzle' do assalto, pelo qual foram detidas 1.843 pessoas, segundo o Ministério da Justiça.
O Supremo Tribunal de Justiça reteve 942 suspeitos em custódia.
Em paralelo, a Polícia Federal lançou a operação "Lesa Pátria" em busca daqueles que "participaram, financiaram, omitiram ou encorajaram" a invasão aos três poderes.
Na terça-feira lançou a quinta fase desta operação "permanente", que no último mês resultou em 37 rusgas e 20 detenções, incluindo a vários polícias.
A ação de certos setores das Forças Armadas e a sua possível "conivência" com "os golpistas", segundo o próprio Lula da Silva, é outra das incógnitas a ser decifrada.
A Procuradoria-Geral da República apresentou até agora 653 queixas, nenhuma delas contra membros das forças armadas.
O Ministério Público Militar abriu oito investigações preliminares sobre a participação de oficiais nos acontecimentos de 08 de janeiro, mas ainda não foram apresentadas queixas.
Lula da Silva prometeu punir todos os responsáveis, "independentemente da patente" e em paralelo tentava despolitizar os quartéis e extirpar o 'bolsonarismo' assumido por certos setores das forças armadas.
O atual Presidente iniciou esta cruzada com uma demonstração de autoridade ao demitir o comandante do exército, general Júlio César de Arruda, a 21 de janeiro.
O ministro da Defesa brasileiro, José Múcio, explicou que a decisão foi tomada devido a "uma quebra de confiança" com a liderança militar. Da parte das Forças Armadas, silêncio absoluto.
O outro grande ponto de interrogação é Jair Bolsonaro, que ainda se encontra nos Estados Unidos da América (EUA), onde viajou em 30 de dezembro, dois dias antes do fim do seu mandato, sem planos de regressar ao Brasil.
O antigo presidente, que solicitou um visto turístico que lhe permitiria permanecer mais seis meses nos EUA, foi incluído na lista do Supremo Tribunal das pessoas sob investigação por alegadamente "incitar" os seus seguidores mais radicais a atacar instituições.
Lula da Silva foi um passo além e, numa entrevista com a rede RedeTV!, acusou-o diretamente de "preparar o golpe".
O capitão reformado do exército tem tentado distanciar-se das acusações, enquanto as autoridades brasileiras têm vindo a apertar o cerco contra si.
Primeiro, um projeto de decreto presidencial para um golpe foi encontrado na casa do seu antigo ministro da Justiça Anderson Torres, preso pela sua alegada "omissão" no assalto à capital do país como secretário de segurança de Brasília.
O texto, não assinado por Bolsonaro, teria permitido a intervenção do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a anulação dos resultados eleitorais.
Em segundo lugar, o testemunho de um senador que denunciou um bizarro golpe de Estado envolvendo Bolsonaro, incluindo um plano de conspiração contra o presidente do TSE e juiz do Supremo Tribunal, Alexandre de Moraes, está a ser investigado.