Plágios que contam
O plágio que determina a infelicidade do nosso futuro colectivo é o de Miguel Albuquerque a Alberto João e o de Pedro Calado ao pior de ambos
Janeiro foi cheio em sinais de alerta relativamente à nossa realidade social, económica e política. São os títulos dos jornais que confirmam o pior. Somos cada vez menos, porque morremos e emigramos mais, nascemos menos e por isso somos mais velhos também, porque já não há espaço para sonhos jovens na Região. Somos cada vez mais pobres, enquanto uma minoria enriquece, porque a inflacção continua em alta, os juros sobem, os preços da habitação também e a vida fica mais cara para todos, insuportável para alguns que se entregam ao álcool, às drogas, às dependências, à pequena criminalidade e à violência crescente que a todos afecta, nas ruas, na noite e nas estradas. Como se isso não bastasse, somos cada vez mais iludidos, com responsáveis máximos do PSD a confirmarem o que muitos sabem sobre a política madeirense mas preferem ignorar: há muito dinheiro e mal gasto, quase sempre devido a influências que estão por explicar.
Perante isto, na última semana, ao apresentar um projecto de resolução sem referências, o PS Madeira errou. O que a celeuma em torno deste episódio confirma é que o escrutínio sobre a oposição é mesmo muito intenso, não raras vezes superior ao da governação, e que se intensifica à medida que nos aproximamos de cada eleição. Na oposição não há margem para deslizes. Longe vai o tempo em que o interpretava como injustiça político-mediática: é que hoje estou convencido que isso só acontece porque a exigência e a expectativa dos madeirenses em relação à oposição, pela qual esperam há quase 50 anos como verdadeira alternativa, é mesmo maior, muito maior, porque a população só decidirá que é tempo de mudar perante a garantia cabal de que o faz para melhor, não para ficar tudo na mesma, nunca para pior.
Apesar de tudo, o plágio que conta a sério na vida dos madeirenses, que a afecta todos os dias há varias gerações, é o do mesmo resultado eleitoral, de 47 anos do mesmo partido no Governo, das mesmas políticas erradas, das mesmas ideias, das mesmas famílias que em tudo mandam, nalguns casos já na terceira geração. O plágio que determina a infelicidade do nosso futuro colectivo é o de Miguel Albuquerque a Alberto João e o de Pedro Calado ao pior de ambos. O plágio que nos entristece a alma é o da minha geração que copia as anteriores por fatalismo do destino: na emigração em massa, agora qualificada; nos baixos salários e na precariedade de quem fica; na incapacidade para adquirir habitação, ou constituir família, porque o dinheiro não estica.
A tudo isto somam-se agora sinais de alerta políticos que não podemos ignorar: com o desgaste da governação e a exigência sobre a oposição, há plágios que não podemos repetir - a começar pelos erros do passado, com escolhas que pouco ou nada dizem aos madeirenses. Não se podem plagiar estratégias do passado e esperar resultados diferentes no futuro. O tempo é de ousar pensar e fazer diferente. Bem sei que, para alguns, perder eleições é apenas e só isso mesmo: perder mais uma. Para tantos como eu, seria perder a oportunidade de dizer à minha geração, numa fase decisiva das nossas vidas sobre ficar ou partir, que sim, existe mesmo uma alternativa possível para o nosso futuro individual e colectivo. É possível vivermos melhor na nossa terra, se introduzirmos transparência na governação, critério na decisão e justiça na distribuição de riqueza. O mesmo emprego em Jersey e na Madeira pode ser pago igual - eis um plágio que interessa.
Quarenta e sete anos depois, precisamos de ser originais: assertivos no combate, lúcidos na execução. Precisamos de uma ideia de esperança e de uma energia mobilizadora para a Região, que inverta a abstenção e que mobilize os indecisos para uma alternativa construtiva, em vez da descrença que empurra tantos para os extremos. Só assim será possível explicar a todos os madeirenses que, 47 anos depois de plágio governativo, é tempo de mudar, Madeira.