Clima social em França gera "enorme inquietação" em toda a Europa
O presidente do Conselho Económico e Social (CES), Francisco Assis, considerou ontem que o clima social em França suscita "enorme inquietação" na Europa, na véspera de mais uma semana de greves contra a reforma das pensões.
"A França tem um Presidente ao centro que é apoiado pelo centro-esquerda e pelo centro-direita e depois as oposições são polarizadas, à extrema-esquerda e à extrema-direita. Isso é uma situação patológica e cria grandes interrogações sobre o futuro imediato da França, o que para todos que vivemos no continente europeu não pode deixar de suscitar uma enorme inquietação", disse Francisco Assis.
O presidente do CES, que falava à agência Lusa em Paris, considerou ainda que a "França tem um problema mais complicado que Portugal".
Francisco Assis está em Paris para observar os trabalhos da Convenção dos Cidadãos, criada para debater a morte medicamente assistida em França e que é composta por 185 cidadãos de todo o país que irão refletir sobre uma possível nova legislação.
Para o antigo eurodeputado, no momento em que a França debate o possível aumento da idade da reforma, "uma grave crise política e social em França não pode deixar de ter consequências gravíssimas para toda a Europa".
Em França, os sindicatos avançam esta semana com mais duas jornadas de greve geral nos dias 8 e 11 de Fevereiro, que coincide com o início das férias escolares numa parte do país. Prevê-se desde já uma forte paralisação dos transportes e de setores estratégicos como as refinarias.
Ao mesmo tempo, em Portugal, os professores prosseguem com a greve nas escolas, enquanto o setor ferroviário anunciou uma greve para esta semana. No entanto, a tensão social em Portugal é diferente do que se passa em França, segundo defende o líder da concertação social portuguesa.
"Temos tensões sociais, mas estão a ser geridas no quadro democrático e a sociedade portuguesa já atingiu um grau de maturidade suficiente para saber lidar com estas novas questões. Há diálogo e ao mesmo tempo que há tensão, há três meses assistimos à aprovação de um grande acordo social da concertação social em torno da competitividade da economia e dos rendimentos dos trabalhadores", afirmou Francisco Assis.
Em França, as manifestações devem prosseguir pelo menos até ao final de março, altura que a Assembleia Nacional vai votar o projeto da reforma do sistema de pensões, com o Governo a tentar ainda convencer a direita tradicional, Os Republicanos, a votar a favor desta reforma.