Jardim falsificou mesmo assinaturas para ajudar Cavaco a ser líder do PSD?
A 17 de Maio de 1985, na Figueira da Foz, tinha início o XII Congresso Nacional do PSD, sendo que, ao contrário do que se passa hoje, os candidatos definitivos à liderança só seriam conhecidos e eleitos na reunião magna. À entrada do congresso, em que Alberto João Jardim presidiu à mesa dos trabalhos, o economista João Salgueiro foi o primeiro a assumir uma candidatura à liderança.
Mas, no decorrer do conclave, também Cavaco Silva mostrou vontade de concorrer à liderança. O que aconteceu depois é conhecido pela versão contada já por diversas vezes por Alberto João Jardim e hoje recordada pelo DN-Lisboa: “A certa altura, estava-se no limite para a meia-noite, vem ter comigo e diz que lhe faltam assinaturas, creio que quatro ou cinco. ‘Dê cá isso’ e assinei por cinco gajos da Madeira. Depois tive que ir ao hotel bater à porta deles: ‘Olha assinei por ti’. Era uma bronca se o homem não se candidatasse. O outro era o [João] Salgueiro. Gosto muito dele, mas não é o meu género. ‘Se amanhã perguntarem se assinaram, digam que sim’. E pronto, fez-se”. Jardim terá também utilizado a sua função de presidente da Mesa para conceder tempo de intervenção adicional ao candidato, o que não estava previsto nas regras do congresso.
Esta história não é nova. Já em 28 de Fevereiro de 1996, no DIÁRIO, foi admitido que Jardim terá “contribuído para a vitória de Cavaco na Figueira” e noutra notícia de 19 de Fevereiro de 1999 foi assumido que deu “um jeitinho" a Cavaco Silva no célebre Congresso.
Em 18 de Janeiro de 2015, a revista Sábado refere o caso nos seguintes termos: “Na noite de sábado, tudo mudou (….). Alberto João Jardim forjou três assinaturas de delegados da Madeira para viabilizar a lista. Cavaco Silva ganhou por 57 votos, deram 10 anos de governo”.
Por sua vez, no seu livro ‘Relatório de Combate’, em 2017, o ex-líder do PSD-Madeira relata o episódio: “Encontro Cavaco Silva, que me diz saber que não tem direito regimental a intervir mais uma vez, mas que gostaria que o congresso percebesse bem a sua proposta, o que estava nas mãos da Mesa. Voltei ao lugar onde presidia, obtive com ‘rapidez democrática’ a aquiescência dos que na altura estavam lá sentados comigo, dois ou três companheiros, e disse para o congresso: ‘O nosso companheiro Cavaco Silva fez aqui uma comunicação importante, mas que parece não ter ficado bem esclarecida. Como em consciência me parece importantíssimo que o Professor clarifique as suas propostas, embora o regulamento do congresso não lhe permita uma segunda intervenção, dadas as circunstâncias vou abrir uma excepção, se ninguém se opõe...’ Deixo passar dois ou três segundos que me pareceram uma eternidade e avanço: ‘Já que ninguém discorda, tem a palavra o companheiro Aníbal Cavaco Silva’”.
Não consta que Cavaco ou algum dos delegados da Madeira no referido congresso da Figueira da Foz tenham desmentido a versão apresentada publicamente por Jardim, pelo que tudo indica que realmente as assinaturas forjadas pelo antigo líder social-democrata madeirense foram determinantes para eleger o novo presidente do PSD nacional em 1985. Cavaco viria depois a assumir os cargos de primeiro-ministro e de Presidente da República.