Alberto João Jardim, antigo presidente do Governo Regional e do PSD-Madeira, que no sábado assinalou 80 anos de vida, deu uma entrevista ao DN-Lisboa, que hoje é publicada, onde desenterra o passado e conta a sua versão de vários acontecimentos, voltando a tocar em alguns assuntos que já são do conhecimento público e que foram notícia ao longo de anos.
Diz não esquecer os “sacanas” que na Madeira o quiseram pôr na rua, refere-se à família Blandy e aos ingleses como o seu “adversário directo”, fala do “genocídio social” de Passos Coelho, da desilusão Santana Lopes, do “ofensivo” Guterres lembra e as zangas e “saudades” de Soares. Deixa também elogios: a Sá Carneiro, a Pinto Balsemão e José Sócrates. E acusa o DIÁRIO de Notícias da Madeira de incompetência.
Pelo meio garante que pôs a Vinci a pagar o Aeroporto da Madeira e a NATO a pagar o de Porto Santo.
Mas um dos episódios mais surpreendentes, contado por Jardim, envolve uma figura histórica do partido: Cavaco Silva “Temos que ir ao princípio”, diz jardim ao jornalista Artur Cassiano, do DN-Lisboa.
“Conversámos à porta de casa dele, no Algarve. ‘Você vai à Figueira?’ E ele... ‘Ai e tal, não sei’, que tinha um carro novo. ‘Ó homem, faça a rodagem e vá lá’... e acabou por ir. Nesse Congresso eu estava a presidir à mesa e o Cavaco, depois daquele discurso em que levou uma assobiadela [defendeu apoio a Freitas do Amaral para Presidente da República], veio ter comigo no dia seguinte a pedir para falar de novo ao Congresso. ‘O que precisar senhor professor, tem o tempo todo que quiser’. Dei-lhe a palavra, ele falou o tempo que quis. Depois: candidato. A certa altura, estava-se no limite para a meia-noite, vem ter comigo e diz que lhe faltam assinaturas, creio que quatro ou cinco. ‘Dê cá isso’ e assinei por cinco gajos da Madeira”, revela Alberto João Jardim.
“Depois tive que ir ao hotel bater à porta deles: ‘Olha assinei por ti’. Era uma bronca se o homem não se candidatasse. O outro era o [João] Salgueiro. Gosto muito dele, mas não é o meu género. ‘Se amanhã perguntarem se assinaram, digam que sim’. E pronto, fez-se”, adiantou.
Jardim foi confrontado pelo jornalista: “Mas isso foi, permita-me, falsificar assinaturas. Não ficou preocupado?”. Alberto João desvaloriza: “Ó homem, foi ajudar o Cavaco. Ele foi eleito, foi primeiro-ministro, foi Presidente da República”.
Depois de um relacionamento complexo de anos como é conhecido, Jardim diz que se reconciliou com Cavaco: “Ainda hoje, de vez em quando, falamos ao telefone”.
Maçonaria, Albuquerque e o "guerrilheiro"
Jardim foi questionado pelo DN-Lisboa sobre Albuquerque: "Enfrentou-me uma vez e perdeu. A maçonaria esteve fortemente ligada ao processo da minha substituição. Não estou a dizer que o Miguel seja da maçonaria, mas estiveram fortemente empenhados na minha substituição (...). Tenho maioria absoluta em Outubro de 2011, mas os gajos em 2012 querem eleições para me porem na rua, para me afastar. A certa altura eu tinha mais adversários dentro do partido do que na rua, as pessoas que votavam. Na rua estava bem, o problema era aqueles sacanas lá dentro [do partido]". A verdade é "só uma", diz: "Deixei-lhes o partido com maioria absoluta. Só perderam depois do Alberto João sair" e, além do mais, quando Miguel Albuquerque o "enfrentou, já tinha o Passos Coelho por trás".
O "guerrilheiro", como se definiu, deixa um aviso: "Podem chamar-me tudo, mas se dizem que sou ladrão... aí vou ao focinho aos gajos."
De resto, pode ler a notícia e as restantes declarações de Jardim na íntegra na edição impressa do DN-Lisboa deste domingo ou aqui.