Organização denuncia 25 civis mortos em ataque atribuído ao exército do Burkina Faso
Pelo menos 25 civis, incluindo sete mulheres e um bebé, foram alegadamente mortos pelo exército no sudeste do Burkina Faso, segundo o Coletivo contra a Impunidade e a Estigmatização das Comunidades (CISC) no país.
"Na tarde de 01 de fevereiro de 2023, o CISC recebeu uma queixa de vários familiares das vítimas com alegações de execuções sumárias de civis alegadamente atribuídas a elementos das Forças de Defesa e Segurança de Burkinabe (FDS)", disse a organização não-governamental (ONG), através de uma declaração difundida na quinta-feira.
As execuções foram relatadas nas localidades de Piega, Sakoani e Kankangou, quando foram atravessadas por uma caravana em direção à mina de Boungou, ao longo da Estrada Nacional Número 4 (RN4).
A caravana era composta por mais de uma centena de veículos e era escoltada por dezenas de veículos 4x4, em que viajavam vários membros uniformizados das FDS.
"As vítimas são civis desarmados, habitantes das aldeias atravessadas pela caravana e que estavam a tratar dos seus assuntos", disse o CISC.
"Algumas das vítimas estavam nas suas casas, outras na berma da estrada ou no trânsito na própria estrada RN4", explicou a organização.
O CISC disse ter relatado o assassinato de sete pessoas (quatro delas mulheres) em Piega (província de Gourma), 12 (incluindo três mulheres e um bebé) em Sakoani (comuna de Kantchari) e seis em Kankangou.
"O número de vítimas continua a aumentar à medida que recebemos informações do terreno", advertiu a organização.
De momento, as autoridades do Burkina Faso não reagiram a estas acusações.
Além disso, o CISC recordou que "esta não é a primeira vez que tais assassinatos são cometidos na RN4 nos últimos meses".
No início deste ano, a ONG acusou os Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP), civis que apoiam o exército na luta contra o terrorismo, de serem responsáveis pela morte de 28 civis no Burkina Faso ocidental.
Estes civis foram mortos a tiro na cidade de Nouna, capital da província de Kossi, entre 30 e 31 de dezembro de 2022, no que os VDP descreveram como um ato de "represália" por um alegado ataque de terroristas na noite de 29 para 30 de dezembro.
O Ministério Público do Burkina Faso disse que tinha sido aberta uma investigação para identificar e prender os autores destes atos "incrivelmente graves" e que "tudo o que fosse possível" seria feito para levar os autores à justiça.
O Burkina Faso tem sofrido ataques frequentes de fundamentalistas islâmicos desde abril de 2015, perpetrados por grupos ligados tanto à Al-Qaida como ao Estado Islâmico, especialmente no norte do país.
O país sofreu dois golpes de Estado no ano passado: um a 24 de janeiro, liderado pelo tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, e outro a 30 de setembro, pelo capitão Ibrahim Traoré, o atual chefe de Estado do país.
A tomada do poder pelos militares teve lugar, em ambas as ocasiões, na sequência do descontentamento entre a população e o exército por causa dos ataques terroristas, que deslocaram cerca de 1,9 milhões de pessoas, de acordo com números governamentais.