A vê-los passar
A Ryanair privilegia Porto e Faro. Sem surpresa. As taxas aeroportuárias travam expansão na Madeira
Boa noite!
A Ryanair anunciou esta semana a implementação de 11 novas rotas no aeroporto do Porto e 8 em Faro para o próximo Verão, passando para um total de 164 rotas em Portugal, colocando mais dois novos aviões em cada um daqueles aeroportos. E na Madeira? Nada. Sem surpresa.
A Madeira não regista qualquer acréscimo numa operação iniciada no ano passado. Tudo porque continua a ter as taxas aeroportuárias mais caras do País. E daqui não saímos, mesmo que a francesa Vinci lucre como nunca no centro comercial que gere em Santa Cruz e ainda por cima não pague IMI.
Por diversas vezes, no ano passado, diversas vozes manifestaram descontentamento face aos aumentos das taxas aeroportuárias. Durante o encontro com a comunicação social realizado a 22 de Outubro na Madeira, o CEO da Ryanair, Eddie Wilson, referiu que, ao contrário de Espanha, que continua a oferecer incentivos para estimular a recuperação do tráfego e do turismo, a ANA tira competitividade ao aeroporto e ao destino e inibiu a companhia de lançar novas rotas a partir da sua base na Madeira. Na ocasião, o secretário do Turismo, Eduardo Jesus, também teceu duras críticas à ANA, que numa reação desesperada se auto-intitulou de “principal financiadora das novas rotas para a Região”, esclarecendo que “as taxas aeroportuárias são fixadas nos termos do contrato de concessão, o qual é de conhecimento público”.
O certo é que a Autoridade Nacional da Aviação Civil considerou que a proposta da ANA para as tarifas a vigorar em 2023 era demasiado elevada e suspendeu o processo até a concessionária alterar os valores. Pelos vistos, a intervenção do regulador levou à redução das taxas cobradas pela ANA em Faro no Porto, mas como a própria companhia aérea irlandesa lamentou esta semana, a ANAC "não foi capaz de persuadir a ANA a baixar as taxas em outros aeroportos” e, por isso, “não haverá crescimento adicional em Lisboa, na Madeira e nos Açores”, em 2023.
“Taxas mais baixas levam a mais aviões, mais empregos, mais conectividade e mais turismo”, defendeu novamente Eddie Wilson. Mas ficou a falar sozinho, pois já se sabe o que a ANA gasta. Hoje foi confirmado que as taxas aeroportuárias na Madeira subiram 5,88%, acima da média nacional que é de 3,86%!
A gestora dos aeroportos queixou-se em Outubro da ingratidão com que é brindada no arquipélago onde, por sinal, registou em 2022 um recorde de movimentos de passageiros. Em Dezembro, ao DIÁRIO o presidente executivo da ANA Aeroportos, Thierry Ligonnière, recusou alimentar um debate “enviesado” na medida em que quem reclama nem sempre olha para aquilo que está para além das taxas publicadas e que são os incentivos. “Se formos honestos temos que fazer um balanço das duas, das taxas menos os incentivos. E quando fazemos isso, no caso da Madeira, estamos muito abaixo daquele que é o preço oficial porque incentivamos o desenvolvimento de rotas e a instalação de bases".
Os madeirenses não se comovem com tamanho choradinho porque são mais uma vez lesados em diversas frentes e só esperam que não sejam chamados a contribuir para as despesas com o imposto devido a pagar à Camara de Santa Cruz. Mas até lá, mais do que ver aviões, convém que alguém sem medo de amuos vá ao aeroporto tratar do bem comum.