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(até) a Inteligência (já é) Artificial

É o mês do Carnaval, que sendo três dias é mais do que a vida que são só dois e, pois claro, altura em que ninguém leva a mal, mesmo que tudo, ou quase, seja artificial. Todos usam máscara, ou tiram-na, consoante o que é indispensável mostrar ou esconder, a folia é generalizada a fazer esquecer as agruras que os restantes dias do ano teimam em querer fazer aparecer.

Mas, não sei não, numa época em que muito do que vemos é falso, numa época em que proliferam “influencers” (o que quer que isso seja e signifique) a tentarem, e em muitos casos a conseguirem, vender unguento de banha de cobra dizendo que é perfume ou medicamento para emagrecer ou creme para alisar a caspa do cabelo, sim porque a caspa frisa o frisoté, quando o que se quer é apresentar-se de cabelo liso quando chega a altura de mandar a selfie para o grupo dizendo vejam bem como eu estou quando estou em tal e tal parte, roam-se de inveja que até que gostaria que vocês estivessem também aqui (mentira mas ninguém precisa de saber).

Vivemos num mundo de falsidade, de uma falsidade cada vez mais verdadeira, com o parecer a valer mais do que o ser cada vez mais desvalorizado perante a voragem da rapidez com que as meias verdades (fake news) são geradas, fazendo esquecer o que ontem era um valor de verdade e hoje deixa de o ser.

Um mundo de tanta falsidade que transforma de um dia para o outro, fruto de notícias e de atitudes dos ditos” influencers”, muitas vezes associados ou com cobertura de alguma comunicação social que se alimenta de realidades distorcidas propositadamente, um mundo de artificialidade estudada para fazer parecer realidade à miríade de seguidores que se alimentam das realidades propositadamente distorcidas e que nelas acreditam piamente, seja Carnaval, ou seja outra qualquer época do ano.

Um admirável mundo novo (obrigado Aldous Huxley) onde

(até) a Inteligência (já é) Artificial!

A Inteligência, natural, aquela que conhecemos, é um conjunto de funções cerebrais que confere a cada pessoa a capacidade de lógica, de memorização, de compreensão, de autoconhecimento, de comunicação, de controlo emocional, de resolução de problemas, em última análise, de conhecimento, se bem que ter conhecimento não seja sinónimo de inteligência, apenas complementa. Durante anos o grau de inteligência era commumente calculado pelo quociente de inteligência, o famoso QI, que não é mais do que o cálculo de uma pontuação obtida em testes padronizados. É uma realidade multidimensional, um conjunto de testes para diferentes tipos de habilidades com as suas proporções a variarem de acordo com os testes aplicados.

Depois veio Daniel Goleman propor um conceito diferente de inteligência tão importante, ou mais do que a perspectiva tradicional de inteligência, que chamou de Inteligência Emocional, que explica o porquê de algumas pessoas consideradas superinteligentes não conseguirem singrar tanto quanto alguém que não sendo tão inteligente (no conceito tradicional), consegue atingir metas que lhes estariam aparentemente vedadas, ou seja, têm outras capacidades ao nível das inteligências intra e interpessoais (os estudos de Goleman potencializaram estudos sobre motivação e de dois dos seus vectores mais importantes: a motivação exógena e a endógena).

A tecnologia trouxe depois a inteligência artificial, demonstrada por máquinas que executam tarefas complexas associadas a seres inteligentes, que é um conceito muito amplo cujo objectivo final é o de executar funções de modo autónomo, como mostrar capacidade de raciocínio – aplicar regras lógicas a um conjunto de dados disponíveis para chegar a uma conclusão, ou de aprendizagem – aprender com os erros para no futuro agir de uma maneira mais eficaz, por exemplo.

As ferramentas actuais que utilizam programas de Inteligência Artificial são mais que inúmeras, todas criadas com o propósito de facilitar a vida de todos os seres pensantes. São meras ferramentas, dizem. Mas mesmo as ferramentas têm de ser usadas por quem sabe utilizá-las com conhecimento. Eu não me atreveria a desmontar um motor de um carro, porque de certeza que não saberia remontá-lo, como não deve um influencer qualquer dizer “urbi et orbi” que a dieta ou o exercício que prescreve na sua página social são do melhor que há, mesmo que não tenha o conhecimento científico necessário para consubstanciar aquilo que propagandeia.

Infelizmente, como vale mais o parecer do que o ser, muitos programas de Inteligência Artificial – e aparecem muitos todos os dias – servem para que esses “influencers” possam “escrever” textos e produzir imagens que servirão para induzir em erro plateias e plateias de seres pensantes que o deixam de ser por preguiça, pela preguiça providenciada por máquinas que estão feitas para “pensar” por elas.

É Carnaval e ninguém leva a mal porque até a Inteligência já é Artificial!