Russos protestam em frente à ONU para mostrar "que nem todos apoiam Putin"
Dezenas de cidadãos russos radicados nos Estados Unidos protestaram hoje junto à sede das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, contra a agressão do Kremlin à Ucrânia e para mostrar à comunidade internacional que "nem todos apoiam Vladimir Putin".
Na manifestação, que contou também com apoiantes da 'Freedom of Russia Legion' - uma formação militar ucraniana criada logo após o início da invasão -, foram erguidos cartazes com frases como: "Criem um tribunal especial para Putin", "Putin é um criminoso de guerra", "Sou russo e sou contra a guerra", "O Governo russo é assassino" ou "Tirem as tropas russas da Ucrânia".
Entre as dezenas de manifestantes estava Dmitry, um jovem russo de 23 anos que disse à Lusa ter conseguido escapar da mobilização decretada por Putin e alcançado asilo em Nova Iorque.
"Estou aqui hoje para pedir que a Ucrânia seja libertada das tropas russas e para pedir aos políticos de todo o mundo que não desistam de apoiar os ucranianos", afirmou Dmitry.
"Estou aqui porque consegui asilo. Os nossos jornais na Rússia dizem que tudo não passa de uma operação militar do bem, mas isso não é verdade. Esta é uma operação muito criminosa. Espero que Putin seja punido. Quando ele chegou ao poder, nós gostávamos dele, mas não mais", acrescentou.
Já Irina, uma russa de 42 anos, disse à Lusa que se deslocou até à frente da ONU para manifestar o seu apoio aos ucranianos neste dia em que se assinalada um ano da "invasão fascista de Putin".
"Queremos que todo o mundo veja que nem todos os russos apoiam Putin ou apoiam esta guerra. Há muitos russos que são contra este regime e contra a invasão e por isso estamos aqui", frisou Irina, usando na cabeça uma coroa com flores amarelas e azuis, as cores da bandeira ucraniana.
A cerca de 300 metros de distância, na outra extremidade da ONU, mas em menor número, um grupo de ucranianos também se manifestava ao mesmo tempo que os russos, ambos contra a guerra,
Entre os cartazes exibidos havia mensagens como "Todos os russos são culpados", "A Rússia é demoníaca, Putin é um assassino", "Sairemos vencedores" ou "Vitória para a Ucrânia".
Estas manifestações integram uma série de eventos agendados por toda a cidade de Nova Iorque para assinalar um ano da invasão russa da Ucrânia.
Na noite anterior, centenas de cidadãos ucranianos e russos já se haviam reunido em frente ao Consulado da Rússia em Nova Iorque numa vigília em que exigiram o fim da guerra e justiça pelos crimes cometidos por Moscovo.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, há exatamente um ano, 8.006 civis mortos e 13.287 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.