Somos apenas reflexo de nós mesmos, jamais veremos nosso rosto real
O que tentamos enxergar de nossa face é somente reflexo. Nunca estaremos nos enxergando na realidade. Algumas vezes seremos apenas um vulto do que imaginamos e, tantas outras, apenas uma demonstração do que, de fato sejamos.
Se enxergamos uma foto de nossa face, ela apenas captou nosso momento, seja de alegria (na maioria dos casos) quanto de tristeza, em nossos poucos minutos assim. Talvez passemos dias em depressão ou chateados com algo, mas, mesmo nestes dias, teremos lampejos de sorriso, seja por ver uma estrela brilhando no céu, um meteorito caindo, um arco-íris surgindo após uma tempestade ou mesmo uma criança brincando. Mesmo que voltemos ao nosso estágio anterior de tristeza.
A vida é assim diversa e, nós, seres multifacetados. Para cada momento vestimos nossa melhor cara, nossa face escondida em nossos sentimentos momentâneos. Razões de sermos tão diferentes em certas ocasiões.
Imagine a vida um labirinto de espelhos onde, em uma curva, você se transforma em um gigante e, um passo à direita, um ser esquálido, transparente. Em alguns passos adiante se transforma em alguém iluminado, multiplicado, transformado.
Mas, um deslize em seu caminho, um amor desfeito, um emprego não conquistado (ou perdido), a perda de um familiar, um amor poderá estilhaçar sua imagem, deixá-lo fragmentado em milhares de pedaços. Mas cada um deles, espalhados ao chão, deixará marcas profundas. Umas arranhadas, outras espatifadas, mas, desarrumada.
Os cacos poderão ser juntados, unidos, colados e, mesmo assim, as marcas ficarão. Seu rosto será visto por você, mas as ranhuras que cada sentimento deixou ficará ali.
Jamais verás, de fato, sua verdadeira face.
E se, pois pode não ser, cada pedacinho destes falasse uma linguagem diferente, sentimentos difusos, mentes próprias. Talvez sejamos assim, multifacetados a cada pessoa que encontramos na vida. Nunca seremos nós mesmos, mas os reflexos daqueles com quem contatamos, cruzamos na vida, vivenciamos, mesmo que por momentos.
E se, pode não ser, que cada pedacinho ali no chão prendesse um pouco de minha alma? Minha essência? Seria apenas eu despedaçado.
Mas, nunca serei translúcido, transparente, real. Serei sempre reflexo do que sinto.
Gregório José