De aprendiz a mestre
O dicionário Priberam da Língua Portuguesa, entre outras, apresenta a definição de corporação como sendo um “conjunto de pessoas com afinidades, nomeadamente profissionais ou ideológicas, que se unem ou organizam com vista a interesses comuns”.
Na Idade Média, as mais diversas actividades estavam organizadas por corporação. Um jovem e, muitas vezes, criança ainda, quando pretendia fugir da escravidão que o prendia às terras do senhor, poderia enveredar por uma actividade artesanal. No entanto, nunca poderia iniciar a sua carreira de artesão, senão sob a capa dum mestre que o orientaria profissionalmente, até um dia se poder tornar mestre artesão. Era o mestre quem disponibilizava as ferramentas, a oficina e as matérias primas necessárias. Esta organização permitia assim aos diversos profissionais apresentar uma melhor qualidade do produto, uma mais eficiente organização no trabalho e obter um resultado mais lucrativo.
A organização das corporações ia ao ponto de concentrarem as oficinas próximas umas das outras. Resquícios desta situação são os nomes atribuídos às ruas em várias cidades, como por exemplo, as ruas dos fanqueiros, dos correeiros, da prata, do ouro, em Lisboa, e dos ferreiros, dos tanoeiros, no Funchal.
Com a chegada do liberalismo, este tipo de organizações foi extinto, ou quase…
Conheci situações semelhantes, já no século XX. A maioria das crianças das zonas rurais, cumpriam a escolaridade obrigatória, isto é, a 4.ª classe. A partir daí era preciso trabalhar para contribuir para o paupérrimo orçamento familiar que os parcos recursos dos adultos não eram capazes de satisfazer. Salvo se emigrasse em que o orçamento familiar contaria com menos uma boca a alimentar e mais uma fonte de rendimento.
Se o “piqueno tivesse jeito”, poderia enveredar pela carreira de artesão e, ao fim de algum tempo, seria capaz de produzir algumas “peças”, tornando-se aprendiz de… e depois, ajudante de... Ao fim de uns anos, quando fosse capaz de iniciar e acabar um trabalho, enfim, fosse capaz de ser autónomo, tornar-se-ia mestre.
Vem isto a propósito do formulário “necessário” para pertencer ao governo. Aqui fica uma sugestão: em vez de responder às perguntinhas, porque não pedir um currículo onde se analise o percurso do visado desde “piqueno” a mestre? Para este currículo, não conta o número de perfis falsos nas redes sociais ou as vezes que atacou os adversários políticos e/ou defendeu os seus compinchas…. Assim, se evitava a pouca vergonha de exigir apenas o curriculum para o lugar de assessor e provas orais e escritas sobre o Código do Procedimento Administrativo para os candidatos a auxiliares, coveiros e cantoneiros…
É que isto de passar de jotinha a mestre não confere competências!