Advogado "desconfia" que Alberto João Jardim sabia dos abusos sexuais praticados na Madeira
Advogado de Anastácio Alves explicou que levou o Observador à Procuradoria-Geral da República "para dar maiores garantias de tratamento justo" ao ex-sacerdote, para que depois não acontecesse algo idêntico ao caso de José Sócrates "que veio de forma articulada para comparecer perante a justiça portuguesa" e depois "foi aquele festival que toda a gente viu"
Miguel Santos Pereira, que faz parte da equipa de defesa do ex-padre Anastácio Alves, deu a entender que o ex-presidente do Governo Regional tinha conhecimento da prática de abusos sexuais dentro da igreja católica, na Madeira, e até levanta a possibilidade de contactar um ex-inspector da Polícia Judiciária.
O caso do ex-padre Anastácio Alves ainda faz correr muita tinta e agora até serve como arma de arremesso.
O verniz estalou depois de Alberto João Jardim se ter intrometido publicamente no assunto através de mais um polémico 'tweet', desta vez a criticar os advogados que estão a acompanhar o ex-sacerdote acusado de abusos sexuais e das ligações que mantêm com a Câmara Municipal de Santa Cruz.
"Anastácio é apoiado pelos advogados do grupo 'comuna' instalado na Câmara de St. Cruz"
Escreve Jardim, no Twitter, a propósito da defesa do ex-padre madeirense
Quem não gostou nada do que leu foi Miguel Santos Pereira, que faz parte da equipa de defesa de Anastácio Alves e que acompanhou o madeirense na badalada ida à Procuradoria-Geral da República, precisamente há uma semana.
Em jeito de resposta e em declarações proferidas à SIC, no programa 'Casa Feliz', Miguel Santos Pereira deu a entender que o ex-presidente do Governo Regional tinha conhecimento da prática de abusos sexuais na Madeira.
Durante o seu 'bispado' ou 'papado' - pronto no caso dele foi durante o seu 'governado', que ele foi presidente do Governo Regional da Madeira - eu não acredito que ele não soubesse de nada disto. Aliás, não quero crer que seja preciso falar com algum dos elementos da Polícia Judiciária à data, se calhar Francisco Moita Flores, para nos esclarecer se o Dr. Alberto João Jardim sabia ou não de alguma coisa relativamente a este tipo de factos e o que é que ele fez. Isto era importante perceber. O que é que ele fez? Isso seria melhor do que agora vir tentar meter-se comigo e com as pessoas que eu represento. Miguel Santos Pereira
Certo é que o advogado desconfia que uma "pessoa com a responsabilidade" de Alberto João Jardim "não soubesse durante estes anos todos" dos abusos sexuais cometidos por alguns sacerdotes na Diocese do Funchal.
Aliás, Miguel Santos Pereira até evoca o nome do inspector da Polícia Judiciária que desempenhou funções ao longo de 12 anos, entre 1978 e 1990.
As pessoas sabem sempre mais do que aquilo que dizem que sabem. Miguel Santos Pereira
Autarquia de Santa Cruz "não tem nada que ver com os restantes clientes do advogado que a representa"
Autarquia reage às publicações de Alberto João Jardim nas redes sociais
Advogado não queria "festival" idêntico ao de José Sócrates
O advogado de Anastácio Alves lembra que "o que sabemos, de facto, é que ele quer estar perante a justiça" e "quer assumir os seus erros", lamentando que se passou "logo a dizer que ele assumiu, que confessou tudo".
"Não. A pessoa disse: «cometi erros, quero assumir os meus erros, quero estar perante a justiça e da forma que me for possível auxiliar as vítimas». Até no sentido da pacificação", sublinhou, para que sintam "que aquilo que lhes fizeram não passa incólume".
Miguel Santos Pereira passou depois a explicar que o ex-sacerdote não foi propriamente acompanhado à Procuradoria-Geral da República (PGR) para se entregar.
Nós fomos contactados e contratados para fazer aquilo que fizeram quando Jesus Cristo apareceu perante o seu tribunal. Está aqui o homem. O que precisam e o que querem dele. Os factos são de 2015 e de 2016 e o processo foi aberto em 2018. É preciso dizer que o padre Anastácio viveu lá fora, em Paris, na Suíça, etcetera. Ele não andou fugido à justiça da forma como querem fazer parecer. Ele estava lá fora. Em determinado momento sabemos também, dito por ele, que esteve no Brasil, mas que já estava em Portugal há bastante tempo, há mais de um ano. Miguel Santos Pereira
Ainda segundo o homem que defende o ex-sacerdote "é preciso perceber o que é que o Ministério Público e a Polícia Judiciária, que é quem tem competência para investigar este tipo de crimes, fizeram para chegar ao contacto com o padre Anastácio Alves".
"Não basta dizer que anda fugido, mas para andar fugido é preciso demonstrar que andaram à procura dele e não o encontraram e eu isso desconheço", prosseguiu.
Quando na quarta-feira à noite nos dizem onde é que ele estava e que estava efectivamente em Portugal nós pensámos que então íamos fazê-lo na Procuradoria-Geral da República. Vamos buscá-lo, vamos conversar com ele, vamos tentar perceber o que existe e o que não existe e vamos levá-lo à Procuradoria-Geral da República. Obviamente que se entendeu que, do ponto de vista estratégico, o melhor seria irmos acompanhados de comunicação social. Pode-nos perguntar porquê. É simples. Para dar maiores garantias de tratamento justo a uma pessoa que quer colaborar com a justiça, que quer comparecer perante a justiça, para que depois não aconteça, por exemplo, como aconteceu com José Sócrates que veio de forma articulada para comparecer perante a justiça portuguesa e quando chega ao aeroporto tinha aquele festival que toda a gente viu. Miguel Santos Pereira
Como os advogados têm "obrigação de aprender com os erros dos outros, sobretudo se for dos outros melhor", Miguel Santos Pereira pensou assim ser acompanhado pela equipa do Observador para que não fossem ultrapassados e para que depois no dia seguinte o assunto surgisse "na primeira página do Correio da Manhã a dizer que a Polícia Judiciária fez uma detenção fantástica. Não era isso que se pretendia".
Advogados de Anastácio Alves informam Tribunal do Funchal sobre morada para notificação
Requerimento foi entregue para que antigo padre fosse constituído arguido e notificado da acusação
Surpresa nossa. Não estávamos à espera que a Procuradoria-Geral da República não conseguisse cumprir uma simples constituição de arguido e uma notificação de acusação. Bastava ter contactado o Tribunal do Funchal. É o funcionalismo público no seu melhor. Burocracia, burocracia, burocracia. Miguel Santos Pereira