Antagonismo do Bispo Francisco Santana e o padre Martins Júnior
Em 1955, conheci o padre Francisco Santana, quando era assistente da JOC-Juventude Operária Católica de São Mamede, em Lisboa, quando os dirigentes da localidade desfiaram os jocistas da Madeira, para jogar "ping-pong"; hoje, ténis de mesa, na sua sede em São Mamede, Lisboa. Isto quando se realizou o 1.° Congresso da JOC/F, da Juventude
Operária de Portugal Continental e das Ilhas da Madeira e dos Açores.
Quem preparou e engalanou o grande salão das oficinas do Instituto Superior Técnico,
foram os/as jovens da Madeira. Os rapazes foram aos colégios católicos para serem transportadas 3.000 cadeiras; e as raparigas ficaram para: limpar; ornamentar; colocar os cartazes e as cadeiras.
Na sede da JOC de São Mamede, por volta das 21h, quando estávamos a jogar o ténis
de mesa, o Padre assistente acompanhado por um homem, tendo os jovens nos chamado à atenção que tomássemos cuidado que estava a chegar a PIDE- Polícia de Investigação e Defesa do Estado.
Quando saíamos do Instituto Superior Técnico, os dirigentes da Direção Nacional da JOC
chamavam-nos á atenção dos vários grupos de 3 homens, que eram informadores da PIDE.
O Bispo Francisco Santana, no seu tempo de juventude, era forcado em touradas, tendo tido um acidente, numa pega de um touro, ficando com um defeito na boca. Foi padre operário na CUF - Companhia União Fabril, que pertencia a um grupo de fábricas, de um grande poder económico do país. Foi responsável pela Stella Maris, que era do apostolado católico dos homens da Marinha e pelos Curso de Cristandade em Lisboa.
Em 1963, participei na recepção dos homens que tinham participado num Curso de Cristandade em Lisboa, sendo o responsável eclesiástico o Padre Francisco Santana.
Nos testemunhos que deram, após o Curso de Cristandade na assembleia para sua apresentação às centenas de cursista de Lisboa, estando eu presente; o que mais me chamou á atenção, foi um homem gigante, de seu nome Braancamp Sobral; que fixei o seu testemunho: "Após o Curso de Cristandade, fui ao Alentejo para fazer contas com os meus trabalhadores, tendo ouvido os seus lamentos da falta de resultados das produções agrícolas. Depois de ouvir os seus lamentos; disse, vamos rezar o Pai Nosso. Depois desta atitude, ouvir dizer que os meus trabalhadores disseram que eu tinha perdido o juízo, porque em vez de os maltratar puseram-lhes a rezar".
O latifundiário Braancamp Sobral, foi nomeado para Governador Civil da Madeira, foi alcunhado de "Cavalo Branco"; tendo exigido que o digníssimo padre Paquete de Oliveira saísse da Madeira, por causa de uma homilia na Sé Catedral do Funchal.
Como o sistema da ditadura salazarista, era o fascismo, que estava em vigor, o governador civil impôs a sua ordem e fez com que o Bispo Francisco Santana tomasse conta da Diocese do Funchal. Quando o Bispo Francisco Santana tomou conta da Diocese do Funchal, na porta principal da entrada da Catedral, disse: "Na diocese do Funchal, nada será feito sem o meu conhecimento".
Os erros que o Bispo Francisco Santana cometeu na nossa ilha da Madeira foram: fechar
o Seminário da Encarnação; não receber os padres que estavam a implementar a doutrina do Concílio Vaticano II; dispersão dos padres que assinaram um texto de; Democracia Melhor Democracia; não se solidarizou com os padres, professores de religião e moral, que viviam numa residência na Rua do Pombal, que lhes danificaram a residência com um petardo, que ainda, no tempo presente, se encontra danificada: profanou o maior cortejo religioso do Santo Santíssimo Sacramento, mais conhecido pela procissão do Corpo de Deus, organizando-a no Estádio dos Barreiros, vindo as excursões do povo do Meio
Rural, como se fossem para um arraial, sendo mais uma manifestação de força; e não de fé em Deus; obrigou os responsáveis da Escola dos Cursos de Cristandade, que fizessem todos os meses um curso para homens ou para as mulheres; pediu ao Sr. Engenheiro Ornelas Camacho, primeiro digno Presidente da RAM, que cedesse o seu lugar ao
Dr. Alberto João Jardim.
O Sr. Engenheiro Ornelas Camacho, deixou um bom saldo positivo e o Dr. Alberto João Jardim, deixou-nos uma dívida fabulosa.
O digníssimo padre Martins Júnior, conheci quando era seminarista em 1954, no Seminário Diocesano da Encarnação, era filho de uma família de Machico; pobre, mas honesta e honrada.
Quando foi ordenado sacerdote, ficou na Sé Catedral do Funchal, conhecendo a pobreza que existia na freguesia da Sé, chamou à atenção dos cónegos e padres essa realidade.
O padre Maurílio Gouveia, seu amigo, convidou-o para ser o assistente eclesiástico da JIC- Juventude Independente Católica do Funchal.
O Padre Martins Júnior pôs em ação o método da Acção Católica: Ver; Julgar e Agir.
Como levantou muitas questões sociais que existia na cidade do Funchal, foi colocado na pobre paróquia mais pobre do Porto Santo, no sítio do Espírito Santo, com pequena capela.
Vendo a pobreza daquele povo, preparou um grupo de jovens de rapazes e raparigas, para o formação de um grupo folclórico "O Moinho".
A PIDE, vendo a dinâmica que o Padre Martins Júnior estava a empreender na Ilha do Porto Santo, criando as condições para libertar aquele povo da pobreza exigiu ao Bispo da Diocese, D. João Saraiva, a mobilização do Padre Martins para cumprir o serviço militar, tendo sido mobilizado como Capelão Militar, para guerra nas colónias portuguesas.
Quando terminou a mobilização militar, em 1969, foi colocado na paróquia da Graça, na
Ribeira Seca, em Machico, zona subdesenvolvida, faltando tudo o que era necessário para que aquele povo vivesse com dignidade.
Só havia uma pequena capela particular, não pertencendo à diocese.
O Padre Martins Júnior, foi o grande impulsionador para o desenvolvimento do povo da
Ribeira Seca, pondo o Povo de Deus em marcha.
A obra está feita, mas, não descurar a sua vivacidade, de bom-pastor com os seus fiéis cristãos!
José Fagundes