Costa gostaria de ver Merkel, Draghi e Lamy na "comissão de sábios" sobre futuro da UE
O primeiro-ministro português apontou hoje os ex-chefes de governo Angela Merkel e Mario Draghi e do ex-comissário europeu Pascal Lamy como possíveis elementos de uma "comissão de sábios" para refletir sobre o futuro da Europa.
"A presidente Von der Leyen, na última conversa que tive com ela, mostrou que tem a noção de que está na altura de nomear uma 'comissão de sábios' para pensar o futuro da Europa. Eu gostaria muito de ver pessoas como Angela Merkel, Mario Draghi, Pascal Lamy a refletir sobre isso", admitiu António Costa em entrevista ao jornal Público divulgada na edição de hoje.
Angela Merkel e Mario Draghi foram os anteriores chefes dos Governos da Alemanha e da Itália e o francês Pascal Lamy foi comissário europeu e diretor-geral da Organização Mundial do Comércio entre 2005 e 2013.
Na entrevista, conduzida pela jornalista Teresa de Sousa, o líder do executivo português lembrou os esforços do Presidente francês, Emmanuel Macron, para debater o futuro da Europa no contexto da guerra na Ucrânia, saudando o grupo de peritos criado com esse objetivo na última cimeira franco-alemã.
Costa defendeu que a criação de uma Comunidade Política Europeia (CPE) "é uma boa iniciativa", podendo conduzir a "uma Europa com uma geometria mais variável".
"Há a dimensão da CPE, onde estão países que não querem entrar, como a Noruega, de países que quiseram sair, como o Reino Unido, temos depois este círculo da União Europeia", declarou, acrescentando: "Não estou seguro de que não houvesse alguns Estados-membros atuais que se sentissem melhor na CPE ou com uma participação ativa no Mercado Interno mas mais nada. E penso que há espaço e urgência para que exista um núcleo duro que queira aprofundar o nível de integração em matéria de política externa e de segurança, de solidariedade orçamental, de política industrial...".
Confrontado com a posição contrária da Alemanha a esta estratégia, Costa respondeu: o desafio com que estamos confrontados obriga-nos a todos a repensar as suas posições históricas anteriores", dando o exemplo o atual chanceler alemão, que não sua juventude se opôs à instalação de mísseis norte-americanos no país e agora "dá um salto coperniqueano na política de defesa alemã".
Quanto à intenção da Ucrânia de aderir à União Europeia, António Costa reiterou a posição que tem assumido desde o início, afirmando ter sentido do Presidente Volodymyr Zelensky "uma valorização positiva" relativamente "à franqueza" da posição portuguesa.
"Temos avisado que não podemos ignorar os vários países dos Balcãs Ocidentais, que também são candidatos e que estão mais tempo à espera. Da mesma forma como temos de ser sérios quando falamos com Kiev, também temos de ser sérios quando falamos com esses países", reiterou, considerando que um alargamento "suscita três tipos de problemas".
Desde logo, apontou "um problema de natureza política", uma vez que "a Ucrânia será o quinto maior país da UE, o que implica um reequilíbrio das relações de força internas" e, em "segundo nível", a questão institucional".
"Não vou entrar em detalhes, mas dou só um exemplo. Já foi precisa uma grande imaginação para a senhora Von der Leyen conseguir encontrar 27 portefólios para 27 comissários", comentou.
Na entrevista, o primeiro-ministro português defendeu ainda que a Europa tem de se adaptar ao novo contexto gerado pela guerra na Ucrânia.
A União Europeia "tem de ter a humildade de perceber que o mundo mudou e que tem de se adaptar muito rapidamente à nova realidade, sob pena de ficar naquela situação dos aristocratas que, na transição do século XIX para o século XX, não perceberam que o mundo estava a mudar e que, se não acompanhassem a mudança, rapidamente se transformariam em aristocratas falidos", concluiu.