Violência: prevenir é necessário
A violência acompanha-nos desde os primórdios da humanidade, e nos dias de hoje nunca foi tão fácil ter “acesso” virtual à violência e aos conflitos. Como esta “vende e dá lucro” e “torna-se viral”, é mais perpetuada nos meios de comunicação do que as notícias positivas. Quantas vezes vendem-se guerras como necessárias, ou sublinham-se conflitos em vez de conciliações? É tão frequente esta base violenta que se estranha quando há união dum grupo heterogéneo em nome de algo que a todos diz respeito, sem discriminar. Eu acredito que o próximo grande passo evolutivo da humanidade se dará no caminho da cooperação pacífica, por isso aplaudo estas iniciativas.
Mas estamos ainda distantes desse dia. De vez em quando, são divulgados números que chocam. Os números da violência doméstica subiram em Portugal em 2022, tanto a nível de queixas – o valor mais elevado dos últimos 4 anos -, como de vítimas mortais, mais 5 homicídios do que em 2021 (24 mulheres e 4 crianças). As vítimas mortais continuam a ser mulheres e crianças, indicando uma das causas da violência doméstica como o desequilíbrio de poder entre homens e mulheres nas relações conjugais. A maioria das mulheres vítimas de violência doméstica que denunciam, continuam a ter que sair de casa, com as crianças a cargo, e são muitas as que voltam a ser vítimas de violência doméstica.
As crianças, seres humanos que deveriam ser amados e protegidos pelos pais, acabam muitas vezes maltratadas, negligenciadas e até, por vezes, mortas, no seio duma relação violenta. Está provado que as crianças que assistem ou sofrem violência doméstica ou abuso sexual, ficam marcadas para a vida, sofrendo de diversos problemas de saúde, e estão mais predispostas a perpetuarem os comportamentos de violência, ou mais suscetíveis a se tornarem vítimas. Estas crianças e jovens precisam de ajuda, de perceber o que é realmente violência, de quem as escute com empatia e de quem as ajude a encaminhar na vida. Para que não procurem refúgio nas dependências e sejam mais felizes e realizadas. Estamos a falar de pessoas e não apenas de números frios, lançados a público de vez em quando.
As crianças são o futuro da humanidade. As sementinhas da igualdade, da não-violência e da não discriminação devem germinar e crescer em conjunto com a próxima geração. A prevenção da violência deveria ser encarada como estrutural e prioritária, para consciencializar e conscientizar e mudar mentalidades. Para contribuir para uma maior consciência emocional que permita lidar de uma forma mais equilibrada com os altos e baixos da vida. Para contribuir para a construção de uma sociedade mais pacífica e igualitária.
A causa da prevenção da violência é de todos. Não tem cor partidária, nem donos. As entidades, como a UMAR, que trabalham nesta área há muitos anos, devem ser apoiadas em cada Região para conseguirem fazer mais e melhor.