Madeira previne utilização de tecnologias em menores junto das grávidas
Unidade Operacional de Intervenção em Comportamentos Aditivos e Dependências (UCAD) tem já desenvolvido um projecto direccionado especificamente para as grávidas e respectivos companheiros, nalguns centros de saúde do concelho de Santa Cruz.
Director da UCAD, Nelson Carvalho, elencou à TSF-Madeira uma série de problemas que advêm desta utilização junto dos mais novos.
Na última semana foi notícia que as crianças passam cada vez mais tempo das suas vidas 'coladas' aos ecrãs - à volta de quatro horas por dia, o equivalente a dois meses por ano. A Madeira tem acompanhado essa tendência de crescimento que se verifica a nível nacional e Nelson Carvalho alerta, neste contexto, para a importância da supervisão parental.
É por isso que a Unidade Operacional de Intervenção em Comportamentos Aditivos e Dependências (UCAD) tem já desenvolvido um projecto direccionado especificamente para as grávidas e respectivos companheiros, nalguns centros de saúde do concelho de Santa Cruz, de forma a instruir e precaver os futuros pais nesta tarefa.
Passámos primeiro pelo Caniço, no ano passado, e agora foi alargado à Camacha. O objectivo é implementar em toda a Região e continuar a desenvolver estas acções de sensibilização junto dos profissionais de saúde, aos técnicos dos infantários e aos próprios pais (...) é preciso desde tenra idade orientar as crianças para uma utilização regrada e responsável, sempre sob a supervisão dos pais, porque muitas das vezes os miúdos ficam sozinhos no quarto ou na sala a utilizar a Internet a seu bel-prazer, sem qualquer orientação, e os pais por questões também de tempo vão fazendo as suas lides domésticas ou profissionais. Nelson Carvalho
Menores passam o equivalente a dois meses por ano 'agarrados' ao ecrã
Os menores passam 'agarrados' aos ecrãs, fora da sala de aula, cerca de quatro horas por dia, o equivalente a dois meses por ano, dando preferência a redes sociais como o TikTok sobre aplicações de comunicação como o WhatsApp.
Em declarações proferidas à TSF-Madeira, o director da UCAD elenca uma série de problemas que advêm desta utilização junto dos mais novos, desde logo a preocupação que está "a emergir cada vez mais em que, por exemplo, os miúdos do 1.º Ciclo falam português do Brasileiro devido à influência de... influencers daquele país.
"Passam muito tempo à frente do ecrã a ouvir aquilo muitas vezes sem a supervisão dos pais e dos contactos que tenho tido é que há muitas queixas", aponta.
Ora, em resultado desta utilização também têm surgido "mais problemas", sobretudo "relacionados com as alterações de padrão do sono, que vai afectar depois o rendimento escolar, perturbações psicológicas ou esquelético-musculares - como problemas na coluna e nas articulações – e até em termos de alimentação".
O que vai acontecendo? Cada vez mais vão deixando as actividades diárias, presenciais, desde os treinos, as actividades extracurriculares e a companhia dos amigos, e vão ficando cada vez mais orientados e focados para o ecrã. Nelson Carvalho
"Quando as alterações de comportamento e atitude aparecem já estão numa fase avançada, que é quando os pais tentam tirar o ecrã ou tentam pôr regras e as crianças começam a ficar agressivas, violentas e irritadas. É importante os pais estarem muito atentos a isto. E depois temos de ensinar os nossos filhos, tal como na vida real, a pensar e criticar o que está a ser visto na Internet, como ‘fake news’ ou outra coisa qualquer, porque senão caem, por exemplo, em desafios perigosos", observa ainda.
Então de que forma é que os pais devem agir? Nelson Carvalho cita um estudo norte-americano para justificar aquilo que deve ser colocado em prática.
"A Associação de Pediatria Americana é clara nisto. Até aos dois anos as crianças não devem ter contacto com os ecrãs, porque isso tem impacto no seu desenvolvimento a todos os níveis e causa perturbação. Depois, por outro lado, também diz que entre os 3 e os 14 anos, antes de irem para a cama não devem ter contacto com os ecrãs", avança.
Aqui lanço um apelo aos pais para que utilizem livros, contem histórias, estimulem a leitura, desenvolvam actividades ao ar livre que é muito mais positivo e tem muito mais vantagens no desenvolvimento dos seus filhos. Nelson Carvalho
Apostas on-line são um problema na Madeira
O que os estudos nacionais têm demonstrado é que geralmente as raparigas usam mais as redes sociais e os rapazes, tendencialmente, jogam mais, tanto o chamado 'gaming', como também as apostas on-line.
É neste capítulo que reside um dos grandes problemas da Região. Tendo por base o inquérito realizado no Dia da Defesa Nacional, a Madeira, juntamente com os Açores, está um pouco acima da média nacional.
Somos das Regiões em que os jovens apostam mais on-line, porque muitas vezes os próprios pais - porque para jogar on-line, tanto quanto eu sei, é preciso o número de contribuinte e se for menor a lei não permite - o que acontece é que os pais dão o próprio NIF para os filhos jogar. Nelson Carvalho
Por outro lado, a UCAD até já fez algumas denúncias. As próprias casas de jogos de fortuna e azar deixam os menores apostar quando não deveriam fazer isso e os jovens, entre si, também arranjam.
De facto, a tendência nacional aponta para um crescimento da prática de jogos de apostas através da Internet por parte dos jovens de 18 anos, sendo que, desde 2015, as prevalências têm vindo a aumentar de forma sistemática, ainda que paulatinamente.
Em 2021, as apostas on-line destacaram-se sobretudo nos Açores e na Madeira, onde se verificou uma prevalência superior em 2 pontos percentuais ao total nacional.