Lágrimas e insultos aos adeptos do Marítimo marcam viagem penosa até Portimão
Zainadine, Fábio China e René Santos foram os únicos que se aproximaram dos cerca de 200 maritimistas que esgotaram o sector visitante do Estádio de Portimão. Brayan Riascos é acusado de insultar os adeptos, que pedem processo disciplinar e pedido público de desculpas.
DIÁRIO e TSF-Madeira chegaram à fala com um dos principais responsáveis pelo apoio do Marítimo em Portugal continental. Trabalhou 18 horas e, quase sem dormir, seguiu viagem para o Sul do País. Ao fim de 90 minutos voltou a casa rouco e revoltado.
Pedro Camacho foi um dos 200 adeptos do Marítimo que "abdicaram de muita coisa" para rumar até Portimão e apoiar a equipa insular a muitos quilómetros de distância do sofá.
No caso específico deste madeirense que reside em Portugal continental há vários anos, em véspera de se fazer à estrada na direcção do Algarve trabalhou 18 horas e apenas dormiu três para, ao fim de 90 minutos, assistir à 14.ª derrota do clube verde-rubro nesta edição da I Liga - isto além dos cerca de 80 maritimistas que viajaram desde a Madeira e de outros mais que se deslocaram desde o Norte e Centro do país.
Na ressaca da desilusão e em declarações proferidas à TSF-Madeira, o adepto não cala a sua revolta com a "apatia" de grande parte dos jogadores no final do desaire (2-1) diante o Portimonense, à excepção de três bem identificados.
No final do jogo, depois do apoio durante 90 minutos, os adeptos manifestaram a sua insatisfação perante os jogadores, jogadores esses que foram muito pouco receptivos em vir ao nosso encontro. Tenho na retina o capitão Zainadine, que se aproximou, e também o China e o René Santos. De resto, uma apatia muito grande que não foi encarada de ânimo leve pelos adeptos que, enfim, não terão sido os mais simpáticos e não poderiam ser também perante mais um resultado que deixa a desejar. Pedro Camacho
Os adeptos que esgotaram o sector visitante do Estádio de Portimão ficaram depois “incrédulos com algumas atitudes”, nomeadamente a do avançado colombiano Brayan Riascos, que no momento em que seguia para os balneários “virou-se para trás e insultou os adeptos, porque não gostou daquilo que estava a ouvir”.
“Há aqui medidas que têm de ser tomadas pelo clube. Não é admissível um reforço de Janeiro insultar adeptos. Nem aqui nem em lado nenhum (…) aquilo que se viveu ontem, as atitudes dos jogadores, a indiferença e, mais do que indiferença, o insulto, tem de ter castigo”, sublinha Pedro Camacho, exigindo, mais do que um processo disciplinar a aplicar pelo próprio clube, “um pedido público de desculpas”.
Tivemos um dos capitães de equipa, o Xadas, que ficou a meio do campo indiferente, tivemos um Vidigal que nem reagiu e tivemos o Tiago Lenho a não ter capacidade sequer para argumentar e ouvir os adeptos, portanto, há aqui uma desconsideração muito grande. Certamente que os jogadores não estavam satisfeitos, mas tem que haver uma capacidade maior para gerir a derrota e aceitar as críticas, até porque houve um apoio extremamente grande durante todo o jogo. Pedro Camacho
Voltando a recordar “todo o esforço de muitos adeptos que se deslocaram de vários pontos” do país e “num clima de festa só comparado às finais da Taça da Liga e da Taça de Portugal e, talvez, à ida a Moreira de Cónegas, no ano passado”, este que é um dos principais responsáveis pelas deslocações de adeptos maritimistas em território continental não esconde a frustração e relata a emoção vivida após o apito final do jogo que se perdeu, na recta final, no espaço de 7 minutos.
José Gomes resignado mas confiante na luta
José Gomes, treinador do Marítimo, reagiu de forma resignada à derrota do marítimo em Portimão, embora já olhe em frente, ao próximo jogo. "Custa sempre perder, especialmente quando estamos, ao minuto 84, a vencer por 1-0 e depois o jogo termina 2-1. Depois, como é que foi o jogo e a justiça [do resultado] é sempre uma coisa difícil de avaliar", disse na sala de imprensa.
Houve adeptos a chorar e houve adeptos que têm consciência que provavelmente a descida está muito próxima. Houve o esforço de muita gente, que abdicou de muita coisa, e o resultado não foi o melhor e a emoção falou mais alto no final do jogo e, de facto, houve muita gente a chorar. Homens e mulheres. Não foi fácil e a viagem de regresso foi muito penosa. Ainda hoje estou sem voz. Pedro Camacho
Daqui em diante fica uma certeza da boca de Pedro Camacho. O apoio não vai deixar de existir seja em qual estádio o Marítimo jogar, mas a atitude vai mudar.
"Demover o apoio julgo que seja difícil, mas talvez o tipo de apoio seja diferente. Talvez haja também protesto nesse mesmo apoio. O abandono não está em cima da mesa, mas o protesto julgo que seja legítimo. Quando do outro lado não existe correspondência o adepto também não é imune à crítica", assume o madeirense que já está a pensar na ida até Barcelos relativa à 23.ª jornada.
Eles precisam de sentir a nossa força, mas também precisam de sentir a nossa insatisfação. Um jogador de futebol é um profissional como outro qualquer que tem de ter capacidade para lidar com essa pressão. Pedro Camacho