Embaixadora pede condenação da Rússia para evitar futuras invasões
A embaixadora de Portugal junto das Nações Unidas, Ana Paula Zacarias, defendeu hoje o alinhamento da comunidade internacional na condenação da agressão russa à Ucrânia, sob pena de "outros países poderem sentir-se tentados a fazer o mesmo".
A poucos dias de se assinalar um ano do início da guerra na Ucrânia, Ana Paula Zacarias disse que Portugal tem integrado os esforços de sensibilização de outros Estados para a causa ucraniana e para a condenação de Moscovo, num momento em que ainda vários países se têm mostrado reticentes em virar as costas a Vladimir Putin.
"Aqui, nas Nações Unidas, também é importante que, um ano após esta guerra, toda a comunidade internacional se possa alinhar nesta ideia de que precisamos de condenar esta agressão da Rússia à Ucrânia. Porque, se não o fizermos, outros países, em outras geografias, podem sentir-se tentados a fazer o mesmo", disse a representante de Portugal em entrevista à Lusa, em Nova Iorque.
"Portanto, nós temos que deixar muito claro que a não condenação deste ato, e a não condenação deste ato um ano depois de ter acontecido, pode ter consequências que não são aquelas que nós desejamos no contexto internacional", advertiu.
Para a diplomata, trata-se de mostrar que "há um agressor e um agredido" e que "o agredido está a trabalhar para a sua defesa e, portanto, merece todo o apoio".
"É um país que está a defender o seu próprio território, tem o direito de defender a sua integridade territorial. E por isso é natural que haja um grupo de países aliados a apoiar militarmente esse esforço da Ucrânia para a sua defesa. Essa é a grande questão que está aqui em jogo", frisou.
Desde o início da guerra, em 24 de fevereiro de 2022, a Ucrânia e os seus aliados aprovaram - com esmagadoras maiorias - várias resoluções na Assembleia-Geral da ONU para lidar com o bloqueio no Conselho de Segurança, onde o poder de veto da Rússia impediu qualquer acordo.
Contudo, por várias ocasiões, um significativo número de nações africanas, por exemplo, optou por não condenar ou por se abster de condenar a agressão russa a Kiev nessas resoluções, levando os países ocidentais a abordar esses países de forma mais direta.
Nesse sentido, Ana Paula Zacarias, que chegou ao cargo na ONU cerca de três meses após o início do conflito, indicou que Portugal, em conjunto com a União Europeia e outros Estados alinhados, têm tentado conversar com essas nações mais reticentes, de forma a mostrar "a justeza das suas posições".
"Acho que, quando se trata de princípios, o apoio está lá. Acho que a esmagadora maioria dos países apoia (a Ucrânia) quando falamos dos princípios. Depois, quando se trata de coisas mais específicas, às vezes o apoio, embora maioritário, não é tão expressivo. Esperemos que agora, um ano depois, nesta nova resolução que se espera vir a ser aprovada na Assembleia-Geral no dia que marca um ano do início da guerra, haja também uma votação expressiva de uma grande maioria de países", disse.
A Assembleia-Geral das Nações Unidas irá reunir-se na próxima semana, numa sessão especial para assinalar o primeiro aniversário da guerra na Ucrânia e votar uma resolução de apoio a Kiev contra a invasão russa.
Ana Paula Zacarias avaliou que, apesar de todos estarem ansiosos pela paz, as condições para a mesma têm de ser tidas em consideração, "não podendo ser uma paz que ponha em causa a integridade territorial do país que foi agredido".
"A ideia de um cessar-fogo faz todo o sentido, mas tem que ser negociado de tal maneira que o país agredido se sinta envolvido nessas negociações e se sinta confortável com tudo isso. Obviamente que todos gostaríamos de ter a paz e isso é inegável. Mas temos que ver quais as condições que nos podem conduzir a uma paz justa. E eu acho que esse é o elemento central de todo o trabalho que está a ser feito aqui, juntamente com a Ucrânia, (...) e Portugal faz parte desse esforço, obviamente", sublinhou.
Contudo, a representante portuguesa não perspetiva um fim próximo para o conflito, uma vez que a Rússia não dá sinais de travar a agressão.
"Enquanto isso acontecer, não estão criadas seguramente as condições para a paz. É uma coisa terrível... ver e assistir ao sofrimento na Ucrânia. As mortes, a destruição da infraestrutura. A Rússia bombardeia quotidianamente as infraestruturas da Ucrânia, inclusive infraestruturas civis. E, portanto, enquanto isso acontecer, como é que nós podemos falar de paz?", questionou.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).