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Fake news publicitárias: uma má opção

Em 2018, com a aplicação do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD), eu – como quase toda a gente – achava que ia deixar de receber mensagens publicitárias e qualquer tipo de comunicação de marketing não autorizada. Contudo, não foi bem assim. Passados uns meses, continuamos a ser bombardeados por anúncios. Chegam por diversas vias e, graças a estratégias de marketing direto, ousam tratar-nos pelo primeiro nome. É como se se rissem da nossa cara, dada a consciência de invasão de privacidade evidenciada precisamente com toda a polémica em torno da aplicação da lei.

Quem já não recebeu, mesmo depois da aplicação em Portugal da RGPD, mensagens que nunca autorizou expressamente?

Quem já não se questionou, indignado, como foi o seu contacto parar às mãos daquelas empresas/marcas com as quais nunca se relacionou?

É frustrante saber que o nosso e-mail ou número de telemóvel faz parte de uma extensa lista comercializada exclusivamente para efeitos de marketing relacional e que os procedimentos para exclusão da mesma são, por vezes, morosos ou inúteis devido à sua propagação.

Mas, pior ainda do que receber publicidade não solicitada, é receber o que se denomina de fake news publicitárias, ou seja, publicidade com conteúdos falsos ou enganosos, conteúdos desinformativos que se apresentam muitas vezes bastante atrativos, mas que, na verdade, não são mais do que tentativas de engano, com fins sobretudo económicos.

Apresentam-se em diversos formatos e representam muitas vezes cibercrimes. São, por exemplo, links que nos chegam via SMS, WhatsApp ou correio eletrónico, remetidos supostamente do nosso banco ou de uma marca de confiança. Oferecem-nos falsas promoções imperdíveis, condições de crédito sensacionais ou ofertas de equipamentos eletrónicos a preços únicos, entre outros.

Na verdade, na área da publicidade, de pouco servem regulamentos ou leis quando “o crime compensa” e quando, muitas vezes, são os próprios agentes publicitários os primeiros a difundir, sobretudo nas redes sociais, conteúdos com clickbait (títulos atrativos) cujo único intuito é remeter potenciais interessados para páginas falsas, recorrendo à técnica de spoofing (imitação) de site e incorrendo mesmo em cibercrime.

Atenção que sou a favor de estratégias de publicidade que englobem anúncios no digital. Acho-os essenciais e uma inteligente forma de sobrevivência para muitas marcas. Como já tive oportunidade de referir nestas páginas, fazem parte de algumas das potencialidades do marketing digital, pelo que são muito interessantes em termos corporativos.

Contudo, na minha opinião, tanto as redes sociais como qualquer página organizacional que compacte com a difusão de fake news publicitárias está a contribuir para o aumento do fenómeno da desinformação.

Entendo que, como não há transparência, não é benéfico para uma empresa, marca ou instituição associar-se à divulgação de conteúdos que possam vir a enganar o seu público… Por mais que seja até compreensível a necessidade destas organizações se renderem às finalidades económicas da divulgação de anúncios com conteúdos falsos, é importante perceber que, a longo prazo, as consequências em termos reputacionais podem ser catastróficas.

Perante este cenário, resta-me ter fé nas pessoas. Acreditar que, embora continue a ser necessário apostar na literacia mediática e na educomunicação, há mais consciência para aceder aos diferentes meios de comunicação, às redes sociais e aos diversos conteúdos online com a capacidade de distinguir o que é real do falso.