Queixas de cibercrimes recebidas pela PGR quase duplicaram em 2022
As queixas de cibercrimes recebidas em 2022 pela Procuradoria-Geral da República (PGR), num total de 2.124, quase que duplicaram em relação a 2021 e quadruplicaram face a 2020, ano em que aumentaram de forma excecional devido à pandemia.
"Em 2022, os números das participações entradas superam muitíssimo as do ano anterior", afirma uma nota da PGR sobre as denúncias de cibercrimes recebidas pelo Gabinete Cibercrime da Procuradoria-Geral da República, criado em 2016.
A PGR refere que as denúncias de cibercrimes recebidas por correio eletrónico pelo Gabinete Cibercrime "aumentam persistentemente, de forma consistente, de ano para ano, desde 2016", mas foi em 2020 que as queixas aumentaram "de forma excecional", designadamente após o confinamento devido à pandemia da covid--19.
"Em 2021, o aumento foi ainda mais expressivo do que tinha sido em 2020, mais que duplicando. Em 2022 esta tendência manteve-se: foram recebidas 2.124 denúncias, quando em 2021 tinham sido recebidas 1.160. Portanto, registou-se um aumento de 73,58%. Pode dizer-se que, em termos médios, com oscilações anuais, em cada ano desde 2019, são recebidas o dobro das denúncias do ano anterior", salienta a nota.
Os dados mostram que no ano passado foram recebidas, em média, 177 denúncias por mês e que das 2.124 queixas, 359 foram encaminhadas para abertura de inquérito, um aumento de cerca de 84% em relação a 2021.
Segundo a PGR, em 2016 foram recebidas 108 denúncias, que aumentaram para 155 em 2017, registando no ano seguinte uma subida ligeira para 160 e em 2019 chegaram à PGR 193 queixas. Em 2020, o aumento no número de denúncias foi "excecional e superou em muito os dos anos anteriores" ao atingir as 544, tendo em 2021 voltado a aumentar para 1.160.
A nota da PGR destaca que o mês de julho de 2022 recebeu "um número excecional de denúncias" por ter sido identificada uma campanha criminosa que se dirigiu a muitas vitimas e com grande incidência online, do tipo "esquema de pirâmide".
Em 2022, o tipo de crime mais reportado foi 'phishing', 358 casos, em que os autores tentam obter dados de acesso a cartões e a contas bancárias, seguido das falsas convocatórias policiais (224), uma nova modalidade de burla online, que passa pela expedição de milhões de mensagens em que o destinatário é suspeito de diversos atos relacionados com abuso sexual de crianças e, ao mesmo tempo, é advertido de que, sendo alvo de uma investigação criminal, a mesma pode ser encerrada mediante um pagamento de uma quantia monetária.
A PGR destaca também que outro dos fenómenos criminosos que mais motivou denúncias em 2022, num total de 84, foram fraudes relacionadas com plataformas de vendas online e com a aplicação de pagamentos 'MBWay', que no ano passado atingiu muitas vítimas, dando igualmente conta que as burlas relacionadas com investimentos em criptomoedas mais do que duplicaram, tendo sido registadas 94 participações.
A burla conhecida por "olá mãe, olá pai", que se traduz na abordagem por parte dos agentes criminosos a vítimas através da rede social WhatsApp, com o propósito de os convencer de que são os seus filhos e perderam o respetivo telefone, estando a utilizar um número provisório. O processo acaba sempre em pedidos de realização de transferências bancárias a favor de terceiros.
De acordo com a PGR, este fenómeno surgiu em setembro de 2022 e em quatro meses foram recebidas 65 queixas e os pagamentos solicitados variaram entre os 750 euros e os 4.000 euros.
As denúncias respeitantes a crimes informáticos, ou cibercrimes em sentido estrito, recebidas pela linha do Gabinete Cibercrime representaram em 2022 "um conjunto significativo, tendo por vezes grande repercussão pública e mediática", tendo "uma boa parte destas denúncias relatado ataques de 'ransomware'".
Segundo a PGR, foram remetidas para investigação 20 denúncias deste tipo e a generalidade descrevia ataques a pequenas e médias empresas, além das 71 outras queixas de mensagens de correio eletrónico contendo 'malware' de diversa natureza, que não foram encaminhadas para investigação porque foram inconsequentes, isto é, porque os seus destinatários identificaram a sua natureza e acabaram por evitar ser vítimas das mesmas.
As burlas online relacionadas com vendas através de diversas plataformas, burlas com páginas "falsas" da internet e burlas no mercado imobiliário, sobretudo relacionado com arrendamento de casas de férias, estudantes e estrangeiros, são outras queixas que deram entrada no Gabinete Cibercrime, que contabilizam ainda burlas em relações pessoais e burla invocando pagamentos em falta.