Nicolás Maduro diz não ter motivos para retomar diálogo com oposição venezuelana
EPA/MIGUEL GUTIERREZ
O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, questionou hoje o que disse ser a falta de palavra da oposição nas negociações com o Governo, sublinhando que não tem motivos para retomar o diálogo com a oposição.
"Nós temos sido muito claros. Dialogamos com todos os que há para dialogar, até com o diabo, com o favor de Deus e as suas garantias de proteção (...) mas, há algo muito simples, quando tu dialogas, tens de ter palavra. Ao conversar com alguém, dizes que fazes isto e assinas", salientou.
Nicolás Maduro falava durante a celebração do 9.º aniversário do programa "Con el mazo dando" (dando com o malho), transmitido pela televisão estatal venezuelana e apresentado por Diosdado Cabello, que é tido como o segundo homem mais forte do chavismo.
Maduro continuou: "Além disso, convocas governos tão sérios como os do México, da Noruega e Rússia, como garantes, como observadores, e depois dizes que não te lembras do que assinaste. Que motivação, que certeza, podemos ter para nos sentarmos e voltarmos a falar com estas pessoas", questionou o governante.
Segundo Maduro, a oposição comprometeu-se a desbloquear 3,2 mil milhões de dólares (2,9 mil milhões de euros) de ativos da Venezuela, que devido às sanções internacionais estão retidos em bancos de países como Estados Unidos e Portugal.
"Assinaram um acordo social por 3,2 mil milhões de dólares e agora dizem que não têm um único dólar, que o Governo dos EUA os abandonou, os atirou para o vazio, e que não têm a certeza de poderem cumprir esse acordo", disse.
"Se não podem cumprir um acordo que foi discutido durante meses, que foi assinado com garantes internacionais, com observadores internacionais, que garantia, certeza, motivação pode o Governo revolucionário, bolivariano ter para se sentar novamente com este setor", perguntou. E respondeu: "Nenhuma!".
Maduro explicou que esse dinheiro seria investido em eletricidade, água, saúde, educação e para atenuar os efeitos das chuvas no país. O dinheiro, notou, "pertence aos venezuelanos" e seria usado para desenvolver "projetos concretos, bem concebidos e estudados" para a melhoria daqueles serviços.
Em 18 de janeiro de 2023, o Governo venezuelano condicionou a retoma do diálogo com a oposição à devolução dos ativos do país que estão bloqueados no estrangeiro e acusou os EUA de continuarem a ameaçar a Venezuela com novas sanções.
"Se não cumprem com a devolução, ao povo da Venezuela, dos 3, 2 mil milhões de dólares que roubaram, que sequestraram e que tínhamos chegado a acordo de que devolveriam, então não há razão para continuar um diálogo com gente que não tem palavra", disse e chefe da delegação que representa o Governo na mesa de diálogo com a oposição, Jorge Rodríguez, durante uma sessão da Assembleia Nacional (parlamento), onde o chavismo detém a maioria.
Em 04 de dezembro, a opositora Plataforma Unitária Democrática (PUD) da Venezuela acusou o Governo de procurar "sair dos acordos" negociados no México.
"Queremos denunciar que o regime ativou uma série de ações que procuram sair dos acordos", afirmou a oposição em comunicado, frisando que pretende "continuar as negociações sobre questões políticas" e conseguir a libertação de "presos políticos", além do regresso de "milhões de famílias e exilados" à Venezuela.
Em 25 de novembro de 2022, o Governo e a oposição da Venezuela assinaram, no México, um segundo acordo parcial em matéria de proteção social.
O acordo, que visa desbloquear recursos para ajudar as populações mais vulneráveis, determina que Governo e oposição terão de cooperar em despesas humanitárias, como o pagamento de projetos de assistência médica ou a reparação de redes elétricas.
Segundo o chefe da delegação da oposição, Gerardo Blyde, os recursos seriam canalizados através de um fundo fiduciário que seria desenhado e executado pela ONU.
Em 31 de novembro, Nicolás Maduro pediu o desbloqueio dos recursos do país que estão congelados no estrangeiro e "eleições livres de sanções internacionais".
Washington respondeu que vai manter intacta a política de sanções até que sejam dados passos concretos para o "regresso da democracia" à Venezuela.