A Avó e o São Valentim
Passaram por ela o pai, a mãe e o irmão, mas só a avó que os seguia é que lhe chamou a atenção.
Apesar de a manhã já ir adiantada, ali estava ela sobre a cama sentada, com um olhar distante e vazio a espreitar pela janela um tempo chuvoso e frio.
Estava só, pensativa e de tal modo distraída, que nem se apercebeu da aproximação da avó.
- Que tens, meu anjinho? Perguntou-lhe a avó, alisando-lhe os cabelos com carinho.
- Nada, avó, como a manhã está fresquinha preferi ficar aqui agasalhada…quentinha!
A avó sentou-se a seu lado e com um leve sorriso, sussurrou-lhe ao ouvido.
- Não estejas assim, ainda terás hoje um grande dia de São Valentim!
Pela face da neta escorria, presumivelmente, a primeira lágrima do dia.
A avó percebia e compreendia a dor de amor que a sua neta sentia.
Sabia que há pouco tempo ela teria tido uma discussão com o namorado e, naquele dia, particularmente assinalado, era natural que os seus sentimentos estivessem abalados.
A avó, para quem aquela neta era profundamente querida, achou que a podia ajudar servindo-se da sua longa experiência de vida.
- Meu amor, ouve a avó, por favor:
Essas discussões entre namorados não têm nada de anormais ou significativas, a avó teve tantas ao longo da sua vida.
Às vezes, paradoxalmente, até têm o esplendor de fortalecer o amor.
Quem a namorar vos via, logo pressentia, que entre ti e o João um amor profundo existia. E quando um amor ou sincera amizade existe, nenhuma separação, por muito tempo, resiste.
O que é preciso, por vezes, acontecer, é cada um, nos seus pontos de vista ou convicções, ceder, pois quando colocamos o nosso orgulho acima dos nossos sentimentos, só procuramos, deliberadamente, a dor, o sofrimento.
Estou convencida, minha neta querida, que o João tem neste momento, igualmente, o seu coração na mão.
Tenho um forte pressentimento que não tardará uma ligação.
E a avó mal acabara de pronunciar a ultima palavra e já o telefone tocava.
Sem querer ouvir a conversa entre a sua neta e o namorado, tal como entrara, a avó, silenciosamente, saía do quarto.
- CINCO ANOS DEPOIS:
Exatamente no dia de São Valentim, duas crianças pequeninas brincavam no jardim.
Afinal, aquele casal de namorados, não só se tinha conciliado, como mais tarde casado e por Deus lhes ofertado, aquelas duas crianças que alegremente estavam a brincar… sob as vistas da mãe com um sorriso enlevado, e do pai com ternura no olhar.
A avó e também agora bisavó, sorria, talvez pensando que tivesse dado a sua colaboração para a constituição daquela jovem e feliz família.
Juvenal Pereira