Dispense-se o protocolo
Há forma de evitar tempo perdido com exaustivas saudações iniciais nas cerimónias públicas
Boa noite!
As cerimónias públicas são muitas vezes um hino ao desperdício de tempo. Basta que uns cinco protagonistas notáveis usem da palavra e façam discursos pródigos em dissertações inconsequentes. Contudo, o mais irritante é vê-los alinhados com os compêndios da etiqueta, assumindo-se como exímios cumpridores das saudações protocolares que um dia alguém estipulou como recomendáveis, embora fúteis, logo, dispensáveis.
Para além de repetitivas e enfadonhas, essas referências iniciais nada têm de essencial. Por isso, bastaria que um mestre cerimónias fizesse uma saudação preliminar destinada a mencionar todos os importantes presentes, dispensando os outros oradores do recurso à ladainha, por vezes interminável, em dias solenes.
Veremos quem é que na Região tem coragem para colocar o protocolo na prateleira, sem faltar ao respeito pelas pessoas e instituições, e que numa atitude de elevada consideração, seja capaz de aproveitar o tempo e cada momento para partilhar mensagens diferenciadoras e edificantes.
Para efeitos protocolares, imagine um evento com a presença das altas entidades públicas: 1) Presidente da República; 2) Presidente da Assembleia da República; 3) Primeiro-Ministro; 4) Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e Presidente do Tribunal Constitucional; 5) Presidente do Supremo Tribunal Administrativo e Presidente do Tribunal de Contas; 6) Antigos Presidentes da República; 7) Ministros; 8) Presidente ou secretário-geral do maior partido da oposição; 9) Vice-presidentes da Assembleia da República e presidentes dos grupos parlamentares; 10) Procurador-Geral da República; 11) Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas; 12) Provedor de Justiça; 13) Representantes da República para as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira; 14) Presidentes das Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas; 15) Presidentes dos Governos Regionais; 16) Presidentes ou secretários-gerais dos outros partidos com representação na Assembleia da República; 17) Antigos Presidentes da Assembleia da República e antigos Primeiros-Ministros; 18) Conselheiros de Estado; 19) Presidentes das comissões permanentes da Assembleia da República; 20) Secretários e subsecretários de Estado; 21) Chefes dos Estados-Maiores da Armada, do Exército e da Força Aérea; 22) Deputados à Assembleia da República; 23) Deputados ao Parlamento Europeu; 24) Almirantes da Armada e marechais; 25) Chefes da Casa Civil e Militar do Presidente da República; 26) Presidentes do Conselho Económico e Social, da Associação Nacional dos Municípios Portugueses e da Associação Nacional das Freguesias; 27) Governador do Banco de Portugal; 28) Chanceleres das Ordens Honoríficas Portuguesas; 29) Vice-presidente do Conselho Superior da Magistratura; 30) Juízes conselheiros do Tribunal Constitucional; 31) Juízes conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça, do Supremo Tribunal Administrativo e do Tribunal de Contas; 32) Secretários e subsecretários regionais dos Governos das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira; 33) Deputados às Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas; 34) Comandante-geral da Guarda Nacional Republicana e director nacional da Polícia de Segurança Pública; 35) Secretários-gerais da Presidência da República, da Assembleia da República, da Presidência do Conselho de Ministros e do Ministério dos Negócios Estrangeiros; 36) Chefe do Protocolo do Estado; 37) Presidentes dos tribunais da relação e tribunais equiparados, presidentes do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e do Conselho Coordenador dos 3 Institutos Politécnicos, bastonários das ordens e presidentes das associações profissionais de direito público; 38) Presidentes da Academia Portuguesa da História e da Academia das Ciências de Lisboa, reitores das universidades e presidentes dos institutos politécnicos de direito público; 39) Membros dos conselhos das ordens honoríficas portuguesas; 40) Juízes desembargadores dos tribunais da relação e tribunais equiparados e procuradores-gerais-adjuntos, vice-reitores das universidades e vice-presidentes dos institutos politécnicos de direito público; 41) Presidentes das câmaras municipais; 42) Presidentes das assembleias municipais; 43) Governadores civis; 44) Chefes de gabinete do Presidente da República, do Presidente da Assembleia da República e do Primeiro-Ministro; 45) Presidentes, membros e secretários-gerais ou equivalente dos conselhos, conselhos nacionais, conselhos superiores, conselhos de fiscalização, comissões nacionais, altas autoridades, altos-comissários, entidades reguladoras, diretores-gerais e presidentes dos institutos públicos, provedor da Misericórdia de Lisboa e presidente da Cruz Vermelha Portuguesa; 46) Almirantes e oficiais generais com funções de comando, conforme a respetiva hierarquia militar, comandantes operacionais e comandantes de zona militar, zona marítima e zona aérea, das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira; 47) Diretores do Instituto de Defesa Nacional e do Instituto de Estudos Superiores Militares, comandantes da Escola Naval, da Academia Militar e da Academia da Força Aérea, almirantes e oficiais generais de 3 e 2 estrelas; 48) Chefes de gabinete dos membros do Governo; 49) Subdiretores-gerais e diretores regionais; 50) Juízes de comarca e procuradores da República; 51) Vereadores das câmaras municipais; 52) Assessores, consultores e adjuntos do Presidente da República, do Presidente da Assembleia da República e do Primeiro-Ministro; 53) Presidentes das juntas de freguesia; 54) Membros das assembleias municipais; 55) Presidentes das assembleias de freguesia e membros das juntas e das assembleias de freguesia; 56) Diretores de serviço; 57) Chefes de divisão; 58) Assessores e adjuntos dos membros do Governo. (Esta é a lista que consta Lei das Precedências do Protocolo do Estado Português)
Experimente colocar antes de cada importante mais uns títulos académicos, o habitual senhor(a), doutor(a) ou engenheiro (a). Adicione o Bispo da Diocese, o padre da freguesia e mais uns ilustres endinheirados, a que convém juntar a cautela com as questões de género, usando linguagem neutra. Depois conte o tempo gasto e diga-nos se faz sentido repetir cinco vezes tamanha lengalenga. Poupem-nos.