Famílias aguardam socorro em cima de casas cercadas pelas cheias em Moçambique
Algumas famílias do município de Boane, 30 quilómetros a sul da capital moçambicana, Maputo, aguardam socorro em cima de casas cercadas pelas cheias, disse hoje o presidente da autarquia, Jacinto Loureiro.
"Temos mulheres grávidas e crianças em cima de casas. É um desespero total", afirmou o autarca, sem precisar o número de pessoas isoladas.
"A situação é dramática. Temos três bairros submersos", referiu aos jornalistas, à beira do lençol de 10 quilómetros, com forte corrente, que cobre a estrada e todos os terrenos em redor, tornando impossível circular até Boane.
Os rios transbordaram com a chuva dos últimos dias e a abertura de barragens.
Um barco a motor navega pela zona e já socorreu algumas pessoas apanhadas de surpresa pela corrente e que escaparam para o cimo de árvores.
No entanto, a mesma embarcação não tem força para chegar aos bairros de onde as famílias têm lançado pedidos de ajuda com vídeos partilhados nas redes sociais, filmados de cima de casas e com água por todos os lados.
"Estamos à espera de ajuda de outras embarcações" ou até "de helicópteros", acrescentou o presidente do município.
Jacinto Loureiro confessou sentir-se "impotente", tal como as restantes autoridades locais, lançando um apelo para a intervenção do poder central.
Por outro lado, a zona urbana de Boane "é uma ilha", uma vila onde se encontram cerca de 4.000 pessoas que saíram de zonas alagadas, acrescentou.
Simão Ezequiel, residente de Boane, é uma das dezenas de pessoas que se aglomeram no local onde a água engole a estrada: queria gozar o dia de folga em casa, mas não tem como lá chegar.
"Não sei como está a minha família. Estou a ligar, mas o telefone não responde", contou.
No seu mais recente balanço, o Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD) referiu que havia 15 pessoas sitiadas pelas inundações na província de Maputo, entre as cerca de 14.000 afetadas pela chuva intensa que cai desde quarta-feira.
A ocorrência de inundações é recorrente nesta altura do ano em Moçambique, que está em plena época das chuvas, mas, ainda assim, a pluviosidade tem estado acima do esperado.
Desde quarta-feira, a chuva acumulada superou os 170 milímetros, ou seja, mais que a média estimada para todo o mês de fevereiro na região da capital, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inam) moçambicano.
As previsões continuam a apontar para chuva intensa até domingo e as autoridades têm reiterado apelos para que os residentes em zonas ribeirinhas saiam dos locais de risco.