Primeira-Ministra da Moldova demite-se e Governo cai
A primeira-ministra da Moldova, Natalia Gavrilita, demitiu-se hoje do cargo, provocando a queda do Governo, justificando a decisão com as várias crises causadas pela invasão russa da Ucrânia.
Em conferência de imprensa hoje realizada, Gavrilita afirmou que "chegou a hora de anunciar a renúncia", acrescentando que ninguém esperava que o seu Governo, eleito no verão de 2021, "tivesse que administrar tantas crises causadas pela agressão russa na Ucrânia".
A gestão da primeira-ministra demissionária foi marcada por uma série de problemas, incluindo uma crise energética aguda, o disparo da inflação e vários incidentes, como mísseis a atravessar o seu espaço aéreo.
Um novo Governo será nomeado pela Presidente, Maia Sandu, mas o executivo terá de ser ainda aprovado pelo parlamento.
Hoje de manhã, o exército ucraniano garantiu que dois mísseis de cruzeiro russos sobrevoaram o espaço aéreo da Roménia, país da NATO, e da Moldova, antes de entrarem na Ucrânia.
Segundo o chefe do Estado-Maior do exército ucraniano, Valery Zaluzhnyi, os dois projéteis foram "lançados do Mar Negro" e "atravessaram o espaço aéreo romeno" cerca das 00:30 (hora de Lisboa) antes de entrarem no espaço aéreo ucraniano.
A Roménia indicou que as informações do oficial ucraniano "ainda não tinham sido confirmadas", mas a Moldova anunciou que um míssil tinha entrado no seu espaço aéreo e convocou o embaixador de Moscovo em Chisinau, Oleg Vasnetsov, classificando a ação como "uma violação inaceitável" do país.
"A Rússia continua a guerra agressiva contra a Ucrânia", sendo que "os ataques com mísseis contra o país vizinho afetam de forma direta e negativa a vida dos cidadãos moldavos", referiu um comunicado publicado no portal da diplomacia de Chisinau.
Na quinta-feira, a Moldova foi alvo de debate na reunião do Conselho Europeu, realizado em Bruxelas com a presença do Presidente ucraniano.
Na reunião, Volodymyr Zelensky disse ter intercetado recentemente um plano dos serviços secretos russos para destruir a Moldova, país vizinho da Ucrânia, adiantando que já tinha alertado a Presidente Maia Sandu.
"Quando recebi este documento avisei imediatamente a Moldova sobre esta ameaça para protegê-la. Acredito que todos vocês fariam o mesmo. Não sei se Moscovo deu ordem para prosseguir com este plano, mas é muito semelhante àquele que quiseram implementar na Ucrânia", afirmou Zelensky.
O Presidente ucraniano acrescentou ainda que os documentos intercetados mostravam em detalhe "como, quando e onde" deveria acontecer o ataque, referindo que o objetivo era controlar a Moldova.
A primeira-ministra moldova já tinha confrontado Moscovo nos últimos dias, depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, ter defendido que o Ocidente pretende transformar a ex-república soviética da Moldova "na próxima Ucrânia", afirmando mesmo que havia planos para integrar o país na NATO ou para ser absorvido pela Roménia.
Confrontada na terça-feira com estas declarações, Natalia Gavrilita lamentou, em conjunto com o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, as afirmações do ministro russo, referindo que "as declarações feitas pelo ministro Lavrov eram preocupantes e não tinham em conta a soberania e independência da República da Moldova".
"Os cidadãos moldavos disseram nas urnas qual a orientação que desejam para o nosso país, decidiram o nosso modelo de desenvolvimento e disseram que querem o caminho europeu. A sua vontade deve ser respeitada e devemos implementar a sua vontade política", afirmou, no final da reunião do Conselho de Associação UE-Moldova.
"Tudo faremos para preservar paz e estabilidade no nosso país, e acreditamos que tais declarações são contrárias à lei internacional e ao direito da Moldova à autodeterminação", concluiu.
Por seu lado, Borrell lamentou que Lavrov, "que já foi um diplomata respeitado, prossiga este caminho que o desacredita intelectualmente".
A reunião UE-Moldova realizada na terça-feira foi a primeira desde que foi concedido à Moldova estatuto oficial de país candidato à União Europeia e desde que a Rússia iniciou a agressão militar à Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022.