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ONU alerta para aumento da ameaça representada pelo Estado Islâmico

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A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou hoje para a elevada ameaça representada pela Estado Islâmico à paz e segurança internacionais, que aumentou dentro e ao redor das zonas de conflito onde a organização terrorista e afiliados atuam.

Essa conclusão integra o 16.º relatório bianual estratégico do secretário-geral sobre a ameaça representada pelo Estado Islâmico no cenário internacional, e que foi abordado hoje numa reunião do Conselho de Segurança.

O subsecretário-geral para contraterrorismo da ONU, Vladimir Voronkov, informou o corpo diplomático sobre a atual situação e afirmou que, apesar das perdas de liderança e das despesas que estão a fazer diminuir as verbas da organização, a ameaça representada pelo Estado Islâmico (também conhecido como Daesh) continua em ascensão e a sua expansão é particularmente preocupante na África Central e Austral, bem como no Sahel.

O relatório descreve vários exemplos de violência perpetrada por grupos ligados ao Estados Islâmico em África, incluindo uma série de ataques em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, que provocaram a deslocação de mais de 160 mil pessoas em junho e julho de 2022.

"Os relatórios do secretário-geral registaram devidamente essa tendência infeliz, que deve nos levar a repensar e a rever os nossos esforços para combater o grupo. (...) Por exemplo, o Daesh continua a usar a internet e as redes sociais, videojogos e plataformas adjacentes de jogos para ampliar o alcance da sua propaganda para radicalizar e recrutar novos apoiantes", observou.

Além disso, Voronkov indicou que o grupo continua a usar sistemas aéreos não tripulados para vigilância e reconhecimento, assim como ativos virtuais para arrecadar fundos, algo que preocupa fortemente a ONU.

No Iraque e na Síria, estima-se que o Estados Islâmico controle entre 5.000 e 7.000 combatentes e continue a realizar ataques de guerrilha contra as forças do Governo.

Ao mesmo tempo, Vladimir Voronkov alertou para o desafio representado pela facilidade de movimentação entre diferentes teatros de conflito por parte de combatentes terroristas estrangeiros, desafio esse que não se restringe ao Iraque e à Síria: "É um desafio global", disse.

Há também casos de algumas mulheres radicalizadas associadas ao Estados Islâmico que se reinventam como recrutadoras, doutrinando outras pessoas e em particular crianças, observou.

Voronkov defendeu então serem necessárias medidas preventivas e abordagens multidimensionais para se responder eficazmente ao desafio, além das respostas centradas na segurança

"Nenhuma medida antiterrorista pode ser bem-sucedida se falhar em defender o Estado de Direito e o Direito Internacional. Os direitos humanos devem estar no centro dos esforços do sistema das Nações Unidas para combater e prevenir o terrorismo", frisou.

Após as declarações do subsecretário-geral, o vice-representante dos Estados Unidos junto à ONU, Richard Mills, afirmou que a repatriação, reabilitação e reintegração apropriada de terroristas estrangeiros e seus familiares é uma prioridade para o seu país e "a solução mais durável para garantir que o Estados Islâmico não ressurja no nordeste da Síria".

Face à expansão da organização terrorista em África, o diplomata afirmou que os Estados Unidos continuarão a fornecer ao continente assistência crítica contra o terrorismo, para interromper e enfraquecer o Estados Islâmico e afiliados.

Já o embaixador francês, Nicolas de Rivière, destacou a situação no Afeganistão, afirmando que a "tomada do poder pelos Talibã e os recentes ataques mortais" confirmam os seus "temores sobre a possibilidade de o Daesh tomar um reduto de longo prazo nas cidades-alvo e torná-las num refúgio", avaliando que os terroristas estão a explorar os conflitos e dificuldades socioeconómicas na região para se estabelecerem.

O coordenador político do Reino Unido, Fergus Eckersley, aproveitou para afirmar que a solução de combate ao terrorismo não pode passar pela presença de grupos armados não estatais, considerando-os um "fator desestabilizador".

"Grupos como Wagner não são a resposta", disse o britânico, referindo-se ao grupo paramilitar russo que tem uma forte presença em África.

Face a essas declarações, o representante permanente adjunto da Rússia, Gennady Kuzmin, afirmou que os países africanos são livres de escolherem com quem colaborar, afirmando haver uma mentalidade colonialista por parte de países ocidentais.