Rússia declara "indesejável" fórum de opositores fundado por Kasparov
A Rússia declarou hoje "indesejáveis" as atividades do Free Russia Forum, conferência de opositores políticos russos fundada pelo ex-campeão de xadrez Garri Kasparov que decorre semestralmente na Lituânia, por ameaçar "a sua ordem constitucional e segurança".
A Procuradoria-Geral russa indicou, num comunicado divulgado na sua página da internet, que a decisão foi adotada "com base nos resultados do estudo dos materiais recebidos" e indicou que as atividades do fórum "são indesejáveis no território da Federação Russa".
"A informação sobre a decisão foi enviada ao Ministério da Justiça da Rússia para a sua inclusão na lista de organizações não-governamentais estrangeiras e internacionais cujas atividades são consideradas indesejáveis no território da Federação Russa e sua posterior publicação", acrescentou.
O fórum, fundado em março de 2016 por Kasparov e Ivan Tiutrin, antigo diretor executivo do movimento democrático Solidarnost, indica na sua página da internet que "é uma plataforma independente da oposição russa para discutir questões sobre política russa e internacional, bem como para encontrar soluções para retirar a Rússia da sua crise política, económica e civilizacional".
"O objetivo central do fórum é a formação de uma alternativa intelectual ao regime de [o Presidente russo, Vladimir] Putin, que crie uma estrutura para construir uma nova Rússia orientada para a Europa".
Desde março de 2016, decorreram 11 encontros do Free Russia Forum, ao passo que três conferências realizadas em Vílnius desde o início da guerra na Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, foram organizadas sob os auspícios daquela ONG.
Moscovo incluiu em março de 2022 Kasparov na sua lista de agentes estrangeiros, juntamente com o oligarca e diretor da empresa petrolífera Yukos, Mikhail Khodorkovski, atribuindo a ambos "atividades políticas" contra a Rússia e receção de fundos de organizações da Ucrânia e dos Estados Unidos.
Hoje, um tribunal moscovita condenou à revelia um jornalista a oito anos de prisão, pelo crime de falar de forma pejorativa sobre as Forças Armadas russas - a mais recente jogada na implacável repressão de dissidentes pelas autoridades do país.
Alexander Nevzorov, jornalista de televisão e ex-deputado, foi condenado por espalhar falsas informações sobre os militares russos, ao abrigo de uma lei adotada pouco depois de o Presidente russo, Vladimir Putin, ter enviado tropas para invadir a Ucrânia.
A lei expõe eficazmente qualquer pessoa crítica da ação militar russa na Ucrânia a multas e penas de prisão de até dez anos.
Nevzorov foi acusado de publicar "falsa informação" nas redes sociais sobre bombardeamentos russos à maternidade da cidade portuária de Mariupol, junto ao mar de Azov, acontecimento em que Moscovo negou veementemente o seu envolvimento.
O jornalista, que se mudou para o estrangeiro após o início da guerra na Ucrânia, não emitiu ainda qualquer comentário sobre o veredicto.
O proeminente político da oposição Ilya Yashin foi condenado em dezembro de 2022 a oito anos e meio de prisão no âmbito da mesma lei, enquanto outra figura da oposição, Vladimir Kara-Murza, está sob custódia enfrentando acusações semelhantes.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada por Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 343.º dia, 7.110 civis mortos e 11.547 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.