Deputado russo diz que Governo de Zelensky não é "nazi" mas anti-Moscovo
O deputado da Duma da Região de Moscovo Boris Nadejdin contraria a tese do Kremlin de que o Governo ucraniano liderado por Volodymyr Zelensky é "nazi", preferindo caracterizá-lo como anti-russo.
Em entrevista à Lusa em Moscovo, Nadejdin rejeitou as associações dos Governos de Zelensky e do antecessor deste, Petro Poroshenko, ao fascismo e nazismo, até por o atual Presidente ser judeu.
"A natureza real do regime ucraniano é de certo modo europeia, embora com certos 'bichinhos' na cabeça: como qualquer país que se independentiza do império, neste caso do soviético, agarra-se aos seus mitos nacionais", disse Nadejdin.
O deputado russo critica em particular a apologia pelas autoridades de Kiev de figuras históricas como Stepan Bandera (1909-1959), líder da Organização dos Nacionalistas Ucranianos e do seu braço armado, o Exército Revolucionário Ucraniano, acusado em países como a Polónia de ter colaborado com as forças nazis.
Sepultado em Munique, onde viria a morrer, Bandera é uma figura celebrada do nacionalismo ucraniano, com estátuas em sua homenagem em várias cidades, e até emissões filatélicas com a sua efígie.
O deputado da Duma compara a substituição por Kiev de símbolos russos pelos ucranianos ao contexto da guerra da independência da Argélia, quando o povo argelino procurava desfazer-se dos símbolos franceses.
"Não vejo que o poder ucraniano mostre vontade de desfazer-se de outra qualquer etnia ou cor de pele, mas vontade, isso sim, de livrar-se de tudo o que é russo", afirma Nadejdin.
"Tanto russos como ucranianos desejam colar à outra parte o maior número possível de rótulos. Por tudo isto, não é correcto impor à Ucrânia o estatuto de nazi. Vozes no Ocidente também dizem que há organizações fascistas na Rússia, o que é um disparate rotundo", adianta.
O deputado russo também não poupa críticas aos líderes ocidentais e aos acordos de Minsk, assinados entre Rússia e Ucrânia em 2014 para tentar pacificar a disputada região do Donbass, sob mediação francesa, alemã e bielorrussa.
As recentes declarações da ex-chanceler alemã Angela Merkel de que os acordos teriam sido utilizados apenas para possibilitar à Ucrânia "ganhar tempo" - o que foi interpretado por setores críticos do Ocidente como um expediente para o país se armar - também são recordadas por Boris Nadejdin.
"O Ocidente nunca foi honesto, cada país sempre perseguiu os seus próprios objectivos. Desde o derrube do presidente [Viktor]Ianukovitch [pró-russo], cada um dedicou-se a concretizar os seus interesses. Após a queda de Ianukovitch, o apoio moral e financeiro aos adversários do governo ucraniano tornou-se óbvio. É a pura verdade", defendeu o deputado.
"Durante o desenrolar do conflito, desde 2014, as personalidades envolvidas mudaram tantas vezes de discurso, que não acredito ser esta a última versão de Merkel. A realidade, essa será escrita apenas pelos historiadores, quando isto tudo terminar. No fundo, tudo dependerá de como será posto fim ao conflito e qual o relacionamento que se estabelecerá entre a Rússia e o Ocidente", adiantou.