O “wokismo” ou o “outro fascismo”
Nasci para a Liberdade com o 25 de Abril, à beira de completar 12 anos. O que quer dizer que a minha adolescência e os primeiros anos da minha juventude ocorreram num ambiente livre, democrático, de debate de ideias e opiniões, muitas vezes intenso, mas sempre respeitando, pelo menos da parte que me tocou, as ideias e opiniões contrárias. No final da minha entusiástica adolescência, participei inclusivamente na criação de um jornal que, embora efémero, veio a público.
Toda a minha vida posterior foi enformada por esta vivência inicial da liberdade. Cedo ganhei a convicção de que a sociedade só progride se todos tiverem direito a opinião e que as melhores soluções virão da consideração de todos esses pontos de vista. Ressalvo que nem a unanimidade, nem sequer o consenso, são regras absolutamente necessárias ou desejáveis, mas o bom senso e o equilíbrio indicarão certamente os caminhos das decisões acertadas. Melhor dizendo e sintetizando, vivo e atuo centrando e balanceando as convicções e os interesses que estão, em cada momento, em causa: perante cada problema ou situação, procuro a solução que faça a intersecção possível das expetativas de todos os interessados com as demais condicionantes (legais, económicas, sociais, políticas, emocionais e quaisquer outras) que se apresentam. Este tem sido o “leit motiv” da minha atuação social e profissional. Foi por essa linha que conduzi toda a minha vida pessoal e profissional. Foram esses os valores que procurei transmitir aos meus filhos: racionalidade, diálogo, respeito pelos outros, tolerância e crença nos valores da liberdade e da democracia.
Nunca prescindi, porém, de dizer e defender aquilo em que acredito: sou democrata, liberal e repudio todos os autoritarismos venham da direita, da esquerda ou doutro lado qualquer! No limite, se me disserem que só pode ser assim, eu tendo a fazer o oposto. Não obstante, atuando consistentemente com a minha ideia de liberdade, defendo sempre que qualquer opinião, mesmo que absolutamente contrária à minha, deve poder ser manifestada. Acredito, quiçá ingenuamente, que a bondade das soluções que defendo virá sempre ao de cima e prevalecerá. Se, em alguma circunstância, a minha liberdade for ameaçada, estarei na linha da frente contra os que a puserem em causa. No entanto, nunca defenderei a pretensão de amordaçá-los. Seria um evidente sinal de descrença na virtude das minhas convicções.
A recente moda designada por “Woke”, oriunda de círculos académicos norte-americanos, à conta do “politicamente correto”, insiste em promover, entre outras idiotices, a revisão da história. À conta de ideias que são, atualmente, amplamente maioritárias, como, por mero exemplo, o da rejeição do esclavagismo, do colonialismo, da xenofobia, da homofobia e outros preconceitos similares, querem proibir. Proibir pura e simplesmente, recusando debate ou consideração doutros pontos de vista. Discutir alguma coisa com esta gente é reproduzir o diálogo de surdos a que, por exemplo, se pode assistir entre um ateu e um evangélico: nenhum ouve o que outro tem para dizer!
Proibir e cancelar; ainda que seja necessário reescrever a história. Seguindo a linha estalinista, de péssima memória, apagar a memória do que aconteceu. Esquecendo, pura e simplesmente, o contexto civilizacional e socioeconómico em que os fatos em questão ocorreram.
À conta dos “wokistas” destroem-se bustos e estátuas, deitam-se abaixo monumentos e fecham-se espaços de homenagem, tudo à conta de uma visão muito estreita da história e dos personagens implicados na mesma, que desdenha o contexto e faz de conta que teriam vivido num mundo conformado pelas regras destes novos censores. Só podem ser qualificados como fascistas e nunca poderei admitir estas posições. Não aceito o cancelamento, a destruição e a imposição bruta de um modo de ver redutor que esquece tudo o que se passou antes!
No dia a dia dos cidadãos, também existe essa tentativa “wokista” de reconduzir todos para determinados paradigmas e modos de atuação. Há alguns dias tive a infelicidade de dizer que, enquanto houvesse crianças com fome não dava um cêntimo para ajuda alimentar a cães ou gatos ou qualquer outro animal de estimação. Nada tenho contra os animais. Na minha casa, sempre existiram, foram estimados, bem tratados e, até hoje, recordados. Mas permito-me colocar, na devida equação, os cuidados que devo aos seres humanos e aos outros animais. A histeria resultante foi do tipo de não permitir sequer qualquer debate ou discussão. No final da linha, é fundamentalismo, puro e simples. Temos de o denunciar e rejeitar!
Viva a Liberdade!
João Cristiano Loja