Mais um esforço...
A inflação está a diminuir consistentemente. Após 18 dolorosos meses de crescimento generalizado dos preços, com o outono, chegaram dados de inflação mais animadores, tanto para os EUA como para a Europa. A inflação anual na zona euro caiu para 2,4% em novembro, ficando muito próxima da meta dos 2% do Banco Central Europeu. Nos Estados Unidos, caiu para 3,2% em outubro, enquanto no Reino Unido a taxa de inflação recuou mais de 2 pontos percentuais para 4,6%. A redução merece celebração, mas afirmar o fim da batalha contra a inflação, como alguns já fazem, é uma atitude ingenuamente otimista.
A redução das pressões externas foram a principal força por detrás da queda da inflação. A Europa, foi atingida por um choque de preços dos alimentos e energia após a invasão russa. No entanto, os preços anuais da energia na zona euro começam a reduzir para valores próximos do período pré-guerra da Ucrânia. No Reino Unido, a inflação nos preços dos alimentos também continua a sua trajetória descendente, bem como os Estados Unidos, que esteve mais protegido da guerra na Europa, mas muito afetado pelas interrupções nas cadeias de abastecimento que persistem desde a pandemia.
Os sinais crescentes de um enfraquecimento na atividade económica em ambos os lados do Atlântico, fortalece a tese do início dos cortes nas taxas de juro de referência, mais cedo do que inicialmente previsto. No entanto, a generalidade dos bancos centrais têm afirmado que o último esforço, e o mais difícil, envolve segurar o crescimento da procura interna dos serviços.
Esta narrativa mais cautelosa não é apenas retórica. Embora o mercado de trabalho tenha arrefecido, e já se estejam a verificar reduções no crescimento anual dos salários, ainda vemos, em países como o Reino Unido, um crescimento nos salários superiores à inflação, o que está a alimentar o aumento dos preços nos serviços. Os Bancos centrais já movem influência para políticas de contenção de aumentos salariais superiores à inflação, por forma a reduzir a pressão na procura.
Há outros fatores idiossincráticos e riscos a serem considerados. Na Europa, os efeitos de base da alta inflação na energia, verificada o ano passado, podem revelar-se menos favoráveis, e segundo a Capital Economics, podem levar a inflação de volta para os 3% já em dezembro.
As ofertas pré-eleitorais, tanto na Europa como na América, podem também impulsionar a procura. Além disso, mesmo numa fase de redução do preço, é preciso ter em conta que o preço o petróleo está muito instável, e com os olhos postos no conflito do Médio Oriente. Outro fator preocupante, é o aumento da expectativa de inflação de longo prazo nos EUA, publicada o mês passado, que teve o seu nível mais elevado desde 2008.
É cedo demais para declarar o fim da batalha contra a inflação. O objetivo dos bancos centrais, continua a ser trazer a inflação de volta para 2% e mantê-la nesse nível. Os reflexos reais do impacto dos aumentos nas taxas de juro na economia europeia, ainda não são claros e são muito heterogéneos. Dependo das leituras que se possam fazer relativamente aos seus efeitos, os bancos centrais podem considerar iniciar cortes já em 2024. No entanto, vão também ponderar fatores como os sinais de persistência na inflação, as dinâmicas de médio prazo, as mudanças demográficas e geopolíticas, na forma como influenciam a criação dos preços. Os sinais são mistos e realmente difíceis de interpretar, mas uma coisa é certa, o último esforço que nos espera em 2024, será o mais exigente.