A bem da Nação
O País não pode parar mesmo que o aparente vazio possa dar jeito aos interesseiros
O País não pode parar. Mesmo que o Governo esteja em gestão, limitado aos actos estritamente necessários ou inadiáveis à continuação da sua actividade, António Costa continuará a como primeiro-ministro até à aprovação do programa do próximo Governo pela Assembleia da República saída das eleições legislativas antecipadas de 10 de Março de 2024. Ou seja, na prática os demissionários não irão tomar decisões de grande alcance, como a privatização da TAP ou a escolha da localização do novo aeroporto de Lisboa. Mas vão andar por aí, sem esquecer que há um PRR para cumprir e compromissos por honrar. Logo, não há vazio de responsabilidades por muito que possa dar jeito a alguns fingir que a governação fechou para obras, resta saber se de remodelação total ou de mera cosmética.
O País não pode parar. Nem voltar a adiar as discussões elementares. É para isso que serve a dupla campanha em marcha. Primeiro cabe aos socialistas definirem o que querem. Já fizemos a nossa parte, dando a conhecer as propostas para o partido e para o País de Pedro Nuno Santos, José Luís Carneiro e Daniel Adrião. Agora é com todos aqueles que, tendo quotas em dia, podem exercer o seu voto. Depois, urge que os portugueses percebam o que está em causa numa oportunidade soberana de limpar o que atrapalha e de promover o que acrescenta, se é que querem escolher quem esteja focado permanentemente nas soluções que os portugueses precisam para não perderem qualidade de vida.
O País não pode parar. Mas também não deve cair no extremo oposto, instigado pelo comentário interesseiro, por vezes, radicalmente clubístico, que se aproveita da natural diminuição do caudal intervencionista dos que se preparam para sair da cena pública e da habilidade dos que habitualmente ocupam o espaço mediático com as seus teses. Seja para desviar atenções, como para mandar recados. Marcelo Rebelo de Sousa que o diga ao divulgar ontem no site da Presidência da República uma nota para assinalar o Dia Internacional Contra a Corrupção. Sublinhou a necessidade de se elevar a consciência crítica junto das elites políticas e económicas de forma a inverter uma nefasta percepção pública sobre os efeitos que o fenómeno da corrupção tem em certos sectores de actividade em Portugal, sem contudo detalhar a que sectores se refere. Ou seja, generalizou para que o ruído abafe os casos que o envolvem.
O País não pode parar. Deve ser levado a sério, mesmo que alguns se divirtam com o acessório, com as férias fora de época, com dissertações sobre o alegado tráfico de influências, com avisos sem destinatário e com boicotes à economia. Neste quadro, ainda e esperemos que sempre democrático, já vai sendo tempo que uns e outros aceitem com normalidade a crítica pedagógica com interesse colectivo e saibam distinguir os níveis intervenção. Como me confidenciava por estes dias um entendido em acções populares, providências cautelares e afins, tantas vezes a coberto do difuso interesse público surgem na praça das vaidades e na placa das ponchas pseudo altruístas desejosos de granjear reconhecimento público, normalmente medido por uns likes digitais, quando o que está em causa se resume a interesses egoísticos particulares.
O País não pode parar. E deve ter um desígnio assumido. Pelo que temos ouvido nos últimos dias por vozes que influenciam políticos de esquerda e de direita, urge acabar com os salários de miséria. Como lembrava Miguel Poiares Maduro no congresso da APAVT é “chocante” que em 16 anos, desde 2002, os salários médios tenham subido 0,32% ao ano, o que representa um acumulado de 5,12%. “Números assustadores”, numa economia nacional que não consegue gerar valor e em que a classe média tem vindo a desaparecer.
O País não pode parar. Nem pode dispensar os melhores. O presidente da SEDES, Álvaro Beleza, que esta semana volta à Madeira para olhar para o Mundo em 2024, lamentou recentemente que Portugal seja um país “grisalho que precisa urgentemente de dar lugar a gente nova”, lento quer a perceber o que fazer, como a fazer o que tem de ser feito e comodista em termos políticos. Pede por isso “cidadãos normais e que saibam”, numa actividade muito entregue a académicos e carreiristas, bem como “menos gravata e mais inteligência” na sociedade. De que estão os mais capazes à espera?